Monday, November 30, 2009

A Grande Feira

Informações sobre meu livro

A GRANDE FEIRA - Uma reação ao vale-tudo na arte contemporânea:

Link para comprar na Livraria Cultura.

Link para a entrevista no programa Almanaque, exibido na Globo News.


Release do livro:

Uma reflexão sobre a arte contemporânea e o mercado

Obra de arte, artistas, marchands, colecionadores e outros atores compõem a análise de Luciano Trigo

Em A grande feira, Luciano Trigo apresenta uma crítica incisiva à relação do artista e sua obra com o mercado de arte. Segundo o autor, desde o fim da década de 70, época do fim das vanguardas, a arte contemporânea atravessa uma crise. A mercantilização da obra de arte é um dos pilares deste cenário. Fatos da arte contemporânea mundial são utilizados por Luciano Trigo para mostrar a subordinação da arte ao mercado. Com prefácios de Gianguido Bonfanti e orelha de Gonçalo Ivo, A grande feira é um lançamento da Editora Civilização Brasileira (www.record.com.br) e chega às livrarias no dia 6 de novembro.

A GRANDE FEIRA - Uma reação ao vale-tudo na arte contemporâneaLuciano Trigo
Editora Civilização Brasileira
240 páginas, R$ 34,90


Em A grande feira, o jornalista Luciano Trigo faz uma crítica contundente à subordinação da figura do artista ao sistema mercadológico de arte. O autor apresenta uma reflexão sobre a arte contemporânea e seus principais atores num mundo onde o público cada vez mais é influenciado por outros agentes, que acabam por conferir valores artificiais à obra de arte.

A década de 70 é o ponto de partida da análise, época apontada pelo autor como o início da crise no mundo da arte, até os dias de hoje. A relação entre os vários personagens que compõem o chamado mercado da arte é estudada pelo autor: o artista, o crítico, o marchand, os colecionadores, as galerias, os museus, entre outros, têm suas funções dissecadas no livro.

Com argumentos sólidos e relevantes, o autor utiliza fatos reais para ilustrar suas opiniões e fomentar o debate pouco realizado no Brasil sobre este sistema, que hoje tem o mercado como norteador. Segundo o jornalista, atualmente, a arte contemporânea é oposta à concebida pelas vanguardas dos anos 70 e a antiga disputa entre “apocalípticos” e “integrados”, narrada por Umberto Eco, acabou com a vitória dos últimos.

O valor atribuído a obras que por muitos não são consideradas arte e por outros são compradas por milhões também é destaque em A grande feira. “A capa deste livro reproduz a obra The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living, do artista plástico inglês Damien Hirst. Em 2004, o tubarão mergulhado em formol foi vendido por 12 milhões de dólares ao administrador de fundos americano Steve Cohen. Dois anos depois, Cohen recebeu uma má notícia: o tubarão estava se decompondo. O pequeno alvoroço no mundinho da arte foi logo abafado. Artista e colecionador negociaram a substituição do animal original, e não se falou mais do assunto”, conta Luciano Trigo.

O autor utilizou essa imagem como metáfora para revelar uma facção da arte contemporânea que, segundo ele, é frágil e efêmera como um cadáver mergulhado em formol. Para escrever o livro, Luciano Trigo manteve diálogos com professores, teóricos, leigos interessados e, principalmente com artistas. Com A grande feira, ele empreende uma defesa do que chama de verdadeira arte – “aquela que é sempre criadora, subversiva e nova”.

Luciano Trigo é jornalista, escritor, editor de livros, crítico de cinema e colunista do site de notícias G1. Pela Editora Record, o escritor lançou O viajante imóvel e pelo selo Galerinha Record, os infantis Vira Bicho!, As cores do amor e A pequena ditadora, publicado recentemente.

Friday, October 16, 2009

Sunday, August 09, 2009

Um romance sobre adolescentes e zumbis

G1: O romance mistura um tema sério - a passagem para a adolescência - com elementos um pouco bizarros, como zumbis e assassinatos. Qual é a idéia? Que efeito você quis obter?

SANTIAGO NAZARIAN:
É o que eu chamo de “existencialismo bizarro”, se é para colocar rótulos. É o que eu acho que posso – e quero – fazer de novo pela literatura. Sou um escritor, obviamente tenho influência e sinto o peso de uma tradição literária, mas também tenho meu repertório de literatura de horror, de filmes trash, de toda a cultura pop com que cresci, e gosto dessa mescla. Gosto da fusão de gêneros, de utilizar elementos que talvez não sejam classicamente literários de uma maneira mais lírica, de desafiar um pouco o bom gosto. Os zumbis no livro, por exemplo, são apenas uma alegoria de toda a imbecilidade que assola a humanidade. Há um trecho no livro em que um personagem diz “Há algo de podre nesta cidade.” e outro pergunta: “Isso é Shakespeare?” A resposta: “São os zumbis, isso sim.” Isso é o existencialismo bizarro, colocar Shakespeare e zumbis num mesmo parágrafo.

G1: Em se tratando de um romance sobre pré-adolescência e amadurecimento, é inevitável perguntar: o que o romance contém de autobiográfico, ou de experiências verdadeiras, ao menos num sentido emocional?

NAZARIAN:
De fatos, quase nada. De sentimentos, tudo. Tem muito dessa inadequação, dessa latência. Fui um pré-adolescente muito tímido, retraído – bem, só de ser um menino que não gosta de futebol, no Brasil, você já é de certa forma um outsider. A mim interessa focar isso, os excluídos, falar o que não é dito normalmente. Quando se focaliza a adolescência masculina, por exemplo, é comum mostrar o menino que inveja os amigos já desenvolvidos, fortes, com barba, mas e aquela porção que entra em pânico quando começa a virar homem? Que não quer ter barba, quer permanecer menino? Isso existe muito, independentemente da sexualidade – e essas pessoas talvez não tenham tanta voz, não sejam retratadas na mídia e nas artes. Em literatura se pode fazer isso. Mas isso é só um exemplo, eu procurei retratar a exclusão em diversos níveis: racial, estético, cultural... Os meninos do livro – todos – têm muito de mim, mas também tem muito de vários amigos, ex-namorados, até de ex-namoradas.

G1:Fale sobre a importância das ilustrações e do projeto gráfico inventivo do romance. Em que medida e em que sentido eles enriquecem/modificam o texto?

NAZARIAN:
Acho importante tornar o livro um objeto interessante, bonito. As pessoas têm medo das palavras. É preciso ilustrações para lubrificar um pouco o texto, fazer ele passar mais fácil. Até porque, o livro tem 550 mil toques, não é um livro pequeno. As ilustrações não modificaram muito meu texto, porque quando o Alê(xandre Matos, ilustrador) começou a trabalhar nelas, eu já estava terminando a primeira versão. Eu inclusive pedi para ele tirar alguns personagens, não retratá-los tão explicitamente, para que ficassem mais à cargo da imaginação do leitor. O importante é que ficou um livro lindo; acho isso fundamental, é uma questão de profissionalismo até.

G1: No começo da sua carreira você parecia mais ligado a uma imagem de "outsider", com uma atitude meio rimbaudiana, e hoje você se mostra mais comportado. Concorda? Isso foi deliberado ou faz parte de um amadurecimento natural? Que imagem você gostaria que as pessoas associassem ao seu nome?

NAZARIAN:
Não acho que seja uma questão de mudança da minha atitude ou imagem, e sim dos jornalistas. Quando eu apareci, as pessoas diziam: “Oh! Ele tem tatuagens! Piercings! Trabalhou com disk-sexo!” Agora essas coisas não são mais novidade – não só porque eu já falei sobre isso centenas de vezes, mas porque já se tornaram mais normais, rapidamente já são mais aceitas. Quando eu comecei, o que não faz muito tempo, os jornalistas que me entrevistaram eram todos mais velhos do que eu, agora são muitas vezes mais jovens, também tem tatuagens, piercings, é uma nova geração, que não se choca mais com isso. E acho bom que seja assim. Claro que aquela imagem ajudou a me divulgar, mas fico feliz de não ter ficado só naquilo. Já minha atitude, continua a mesma, continuo sendo sincero em relação a coisas como drogas, homossexualismo, etc. Meus livros, inclusive, são bem menos comportados. Acha que “Olívio” é mais ousado do que “O Prédio, o Tédio e o Menino Cego”?

G1: A Record já é sua quarta editora. Por que um escritor tão jovem muda tanto de casa?

NAZARIAN:
Porque sou jovem, exatamente por isso. As editoras aqui não se preocupam em trabalhar a carreira de um autor, elas trabalham o livro. Então fico livre para fechar cada livro com a editora que oferecer as melhores condições – e isso não é uma questão só de dinheiro, é de o livro sair como eu quero, quando eu quero. Admito que sou bem centralizador, gosto de cuidar de TODAS as etapas da produção. Neste livro novo, por exemplo, escolhi até o tom de preto a ser usado, que não foi um preto padrão, para valorizar as ilustrações. E não me queixo do trabalho das editoras com meus livros, todas fizeram um ótimo trabalho de divulgação, vendo razoavelmente bem; enquanto os interesses delas e os meus estão de acordo, permanecemos juntos. Mas eu não tiro da mente que os livros são MEUS, é ao meu nome que eles serão associados em outros países, em novas edições, daqui a vários anos, não a uma determinada editora.

G1: No seu blog você escreve que, para este livro novo sair, teve "até de fazer macumba pra desfazer macumbas alheias". Como assim? Rola muita inveja/competição entre os escritores e/ou no meio editorial do Brasil?

NAZARIAN
Este livro estava vendido para a Nova Fronteira, contrato assinado, adiantamento pago. E você sabe como está complicada a situação da Nova Fronteira... Então foi bem angustiante ter um livro lá, sem saber se ia sair, quando ia sair. É a pior coisa para um autor, era melhor nem ter editora. Felizmente consegui rescindir o contrato amigavelmente. E claro que, nessas horas, a gente fica pensando se não tem um pouco de olho gordo de outros autores, porque sou um jovem autor que aparece, vende, publica bastante... Inveja sempre existe.

G1: Você se sente integrando uma geração, um movimento literário?

NAZARIAN:
Não. Não acho que ninguém está fazendo o que estou fazendo. Os jovens autores brasileiros me parecem mais preocupados em escrever como “senhores escritores”, no bom e no mau sentido. Eu estou trazendo zumbis à literatura. Não digo que isso seja melhor, mas sem dúvida é diferente.


G1: Com que autores você dialoga? E com quem você prefere não dialogar?

NAZARIAN:
De nacionais? Contemporâneos? Jovens? Acho que tenho alguns pontos comuns rítmicos com o Marcelino (Freire), a questão das rimas, da musicalidade, mas ele é mais cronista, calcado na realidade, foca mais questões da atualidade. (João Gilberto) Noll é meu autor favorito entre os brasileiros vivos. Gosto da estranheza dele, da história incompleta. Caio (Fernando Abreu) obviamente está entre minhas grandes influências, na questão lírica. Há um autor contemporâneo americano, Dennis Cooper, que eu amo, e é das coisas mais undergrounds e pesadas que existem. Quanto aos que eu prefiro não dialogar... Confesso que tenho certo preconceito com esses autorzões de Cia das Letras, acho um pouco boring; mas dia desses li o Cristóvão Tezza – que foi publicado pela Record, ok, mas tem meio esse perfil de autorzão, premiado, etc – já preparado para não gostar, e gostei muitíssimo (de “O Filho Eterno”).

G1: Você esteve recentemente na Feira do livro, em Lima, como escritor representante do Brasil. Conte algumas impressões dessa experiência.

NAZARIAN:
Já há alguns anos que reconheci minha identidade de latino-americano. E o brasileiro em geral não reconhece isso. Mas quando você viaja para um desses países, conhece outros autores, conversa com jornalistas – sai na noite, que seja – você percebe como somos próximos no humor, na cultura, até no biotipo. O Brasil tem uma imensa soberba e desdém pelo resto da América Latina, que está muito mais integrada em si. Tem a barreira da língua, claro, mas não é só isso. Brasileiros cobrem eventos em Frankfurt, em Paris, mas ignoram coisas como o Bogotá 39, por exemplo – havia jornalistas de toda América Latina lá, menos do Brasil. Agora, no Peru, foi bom ver que já tenho meu reconhecimento em outros países, que os jornalistas sabem quem eu sou, que estão lendo meus contos, que começam a negociar meus romances.

G1: A literatura tem a mesma importância que costumava ter no passado? Ou corre o risco de se tornar algo irrelevante para as pessoas, entretenimento e consumo inofensivo?

NAZARIAN:
Temo que sim. Honestamente, temo que se torne irrelevante. O escritor pode sobreviver – eu mesmo sobrevivo de traduções, roteiros, matérias para jornal. Mas eu não gostaria de fazer essa migração total. Não gostaria de que meus livros me levassem, por exemplo, a uma carreira integral como roteirista de TV ou cinema, tenho muito mais prazer em fazer livros. Mas temo que a literatura se torne cada vez mais irrelevante. Podem se interessar em mim como escritor, e me chamar para escrever uma coluna num jornal, mas isso não quer dizer que se interessam pelos meus livros.

G1: As tiragens de livros no Brasil, salvo as exceções de sempre, são muito pequenas. Você se sente escrevendo para uma elite? Quem são seus leitores e que interação você estabelece com eles?

NAZARIAN:
Dentro do contexto atual, eu ainda me considero um desbravador. Meus leitores não são apenas aqueles 2 mil, 3 mil que lêem literatura contemporânea – e que são, basicamente, outros escritores e jornalistas. Tenho um público jovem forte. Consigo vender duas edições facilmente (mais do que isso já começa a complicar, mas “Mastigando Humanos” vendeu 15 mil exemplares, grande parte comprada pelo governo.) Acho que essa conquista se dá por eu não tratar a literatura de forma elitista, por falar sobre meus livros no Programa do Jô, na Adriane Galisteu, por colocar zumbis ao lado de Shakespeare. Claro que minha imagem também ajudou a vender, mas fico feliz que tenha adolescentes que comecem a se interessar por literatura por minha causa. Agora, há um nível de aprofundamento e mesmo de elitismo que não pode ser esquecido, não se pode ralentar sua literatura para atingir mais gente; você pode ilustrar o livro para fazer o moleque comprar, mas quando virar as páginas, ele vai ter de passar pelo existencialismo e pelos questionamentos profundos. É como colocar chantilly sobre cacos de vidro.

Tuesday, April 07, 2009

Sunday, March 29, 2009





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Wednesday, August 06, 2008

Argel é aqui


Revi ontem no cinema A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo. Foi realizado em 1966, quando os acontecimentos que relata - a luta pela independência argelina - ainda eram recentes. É uma obra-prima - como também é Queimada, com Marlon Brando, do mesmo diretor. O que não muda o fato de que o filme pede, hoje, uma leitura diferente da de 20 ou 30 anos atrás.

Naquela época, não havia dúvidas de quem eram os bandidos e os mocinhos do filme, nem de quais eram as questões em causa. O povo argelino era o herói, o colonizador francês o vilão. É claro que Pontecorvo defendia a causa da libertação argelina, mas seu filme não é tão partidário quanto parecia, quero dizer: era fácil, para o espectador da época, vibrar com os atentados terroristas cometidos pela FLN; para o espectador de hoje, eles parecem tão hediondos quanto a tortura e outros crimes praticados pelos militares franceses.

É justamente por isso que A Batalha de Argel conserva sua força. Pontecorvo mostra os dois lados da horrorosa escalada de violência que tomou conta do país, expõe seus mecanismos sem aprová-los. É, nesse sentido, um filme mais verdadeiro que qualquer documentário sobre o tema (aliás, desconfio cada vez mais da maioria dos documentários). O que importa ao cineasta italiano não é dar razão à insurreição argelina, mas mostrar como ela foi possível, e como ela aconteceu.

Por outro lado, hoje já se sabe que outros fatores, econômicos e políticos, foram decisivos no processo de descolonização, além das insurreições locais: manter colônias nos moldes do século 19 estava se tornando inviável, e a independência de países como a Argélia seria de qualquer forma inevitável - e mesmo desejável.

Mesmo assim, Pontecorvo soube realizar um filme permanente numa época em que a tentação panfletária era fortíssima. O mundo era cenário de batalhas ideológicas sem fim, para o bem e para o mal. A adesão idealista a uma causa era algo rotineiro. O que mudou, se as questões de fundo que geraram aquelas batalhas continuam? A desigualdade, a exploração, a exclusão, o abismo social entre ricos e pobres podem ser até maiores hoje, mas no nosso mundo globalizado parece quimérica a emergência de um "contrapoder" real, seja qual for o poder de que estivermos falando. É como se as coisas tivessem, de fato, chegado a um fim, como se estivéssemos num "pós-escrito" da História. Ou não? E isso é necessariamente ruim, ou bom?

Para quem mora no Rio de Janeiro, outro aspecto que chama a atenção no filme é a geografia de Argel: a "ville europeènne" parece uma Zona Sul, ameaçadoramente cercada pela Casbah, isto é, por uma maioria esmagadora de excluídos que também tem que viver, e a violência é aos poucos incorporada à rotina de todos. Não há invasor a expulsar, nem independência a conquistar, mas ainda assim a cidade mostrada no filme parece estranhamente familiar. Argel é aqui?