Thursday, November 22, 2007
Monteiro Lobato e eu
Reproduzo a seguir o artigo do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, publicado na Folha de S.Paulo de hoje. Não vou me estender aqui sobre os pontos de que discordo, e são vários, mas de uma forma geral é um texto que revela, provavelmente por culpa minha, uma incompreensão profunda do que eu quis dizer no artigo publicado na Ilustrada, segunda-feira passada. O eixo do artigo de Marcos Augusto - a comparação da minha análise de alguns aspectos da arte contenmporânea com a crítica de Monteiro Lobato a Anita Malfatti em 1922 - me parece completamente equivocado. E sobretudo injusto, tanto com Lobato quanto com Malfatti, de quem sequer chegamos perto, respectivamente, eu e os artistas que analisei. De qualquer forma, perto de algumas mensagens que recebi, é um artigo bastante sóbrio e educado, que leva adiante o debate da forma que deve ser. A foto é de Monteiro Lobato na redação da Revista do Brasil, na década de 20:
'Paranóia ou Mistificação?'
Ataques atuais à arte contemporânea lembram a crítica conservadora de Lobato ao modernismo
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
É CÉLEBRE o artigo de Monteiro Lobato, com o título ao lado, escrito por ocasião de uma mostra de Anita Malfatti, no qual o pai da adorável Emília demonstra seu horror com a reforma da estética promovida pela arte moderna.
As pinturas de Malfatti são vistas por Lobato como reflexos de uma percepção anormal do mundo -e ele lamenta o fato de a artista ter cedido à influência das "extravagâncias" de Picasso e seus colegas.
Em seu livro "Crítica Cultural: Teoria e Prática", Marcelo Coelho toma o artigo do famoso escritor como aquilo que ele é -um modelo de crítica conservadora. E o disseca, para identificar três traços básicos em seu antimodernismo: 1) o método de julgar uma obra nova a partir de critérios já estabelecidos, anteriores e externos à própria obra; 2) a avaliação de que vivemos num período de declínio, decadência, degeneração, doença cultural; e 3) a postulação de que o crítico de arte seria um representante do "homem comum", enganado pelo artista. O autor observa com argúcia: o crítico "é ao mesmo tempo fiscal, médico e promotor de Justiça".
É impossível não pensar nas reinações conservadoras de Lobato ao ler opiniões como as expressas pelo jornalista Luciano Trigo em artigo publicado pela Ilustrada (19/11). O alvo agora não são mais as distorções formais e cromáticas da arte modernista, já institucionalizada. A doença é a arte contemporânea.
O articulista, na realidade, parte das idéias de nossos dois grandes candidatos ao Troféu Paranóia ou Mistificação do Século 21, a saber, os críticos e poetas Ferreira Gullar e Affonso Romano de Sant'Anna. Ambos têm regularmente atacado as extravagâncias da produção artística atual.
Não raro, como no artigo de Trigo, as opiniões aparecem recheadas de preconceitos e rancores em relação ao mercado de arte, ao suposto "descompromisso" das obras e à inevitável interface midiática da cultura no mundo de hoje.
Não falamos de um reconhecimento crítico do território da arte contemporânea, de uma tentativa legítima de discernir o que seriam bons e maus trabalhos, bons e maus artistas. O que temos é a negação "in totum" da produção de nosso tempo, uma vontade perversa e frustrada de anulá-la, em nome dos "verdadeiros" cânones.
Daí a incrível capacidade de generalização do argumento, que segue a linha "tudo é a mesma coisa": uma arte que não apresenta "nada de novo ou original", é "desligada da realidade" e realizada por gente interessada apenas em "fama, viagens e dinheiro". O que é, na melhor das hipóteses, ignorância.
Não concordo com a opinião de Gullar e Trigo sobre as instalações de Laura Vinci e Débora Bolsoni, mas eles, obviamente, como outros críticos, podem detestá-las. Outra coisa é desqualificá-las e tratá-las como sintomas de uma doença maior que precisa ser erradicada.
Não creio que, no futuro, esses ataques venham a ser lembrados. Se o forem, provavelmente servirão apenas, como o texto de Lobato, para ilustrar o anedotário crítico do século.
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3 comments:
Oi Luciano, tenho acompanhado essa discursão sobre a critica feita por Ferreira Gullar, mas não consegui encontrar o texto dele na internet, apenas fragmentos, onde encontro? Obrigado
Lobato tinha toda a razão!
O que o modernismo nos trouxe de positivo? Nada!
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