Wednesday, November 14, 2007
Pasolini e a vida supérflua
Fiquei com a expressão "a terra vista da lua" na cabeça [ver post abaixo], até que me lembrei: é o título de um curta-metragem de Pier Paolo Pasolini, na verdade um episódio do filme As bruxas, de 1966. No elenco, Totó e Silvana Mangano. Música de Enio Morricone. Se estes nomes não dizem nada a você, o mundo está mesmo perdido.
Após a morte da mulher, o personagem de Totó parte com seu flho em busca de uma nova esposa. Após várias tentativas desastradas, eles encontram uma bela surda-muda - a mulher ideal. Numa tentativa fracassada de dar um golpe em turistas (ela ameaça se jogar do alto do Coliseu, enquanto eles pedem dinheiro para ajudá-la), a mulher escorrega, cai e morre. De volta ao lar, pai e filho percebem que, mesmo como fantasma, ela desempenha todas as suas funções. “É a felicidade, é a felicidade”, gritam.
Uma fábula filosófica, na qual se combinam o cômico e o grotesco, o delicado e o cruel, e de moral incerta. Lá pelas tantas se afirma: "Tanto faz estar vivo ou morto". O que, de um ponto de vista cósmico, não deixa de ser verdade.
Pasolini morreu aos 53 anos, em 1975, assassinado por um michê - provavelmente a mando dos setores da extrema-direita italiana. Mas a crítica radical que ele fez à sociedade de seu tempo desafia os rótulos de direita e esquerda. "Os bens supérfluos tornam a vida supérflua", afirmou, muito antes de o consumo se tornar o eixo da vida contemporânea.
Mais que um cineasta, Pasolini foi um intelectual integral e, sobretudo, independente. Durante a revolta estudantil de 1968, ao observar os confrontos entre estudantes e policiais nos jardins da Villa Borghese, em Roma, tomou o partido dos policiais, filhos de camponeses, contra os estudantes, filhos privilegiados da burguesia. Não teve medo de ser chamado de reacionário pela esquerda.
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