Saturday, November 10, 2007
Norman Mailer está morto
Mais um que se vai. Aos poucos, vão desaparecendo todos os remanescentes relevantes da cultura do século 20. Daqui a pouco, nossos únicos laços com o mundo que eles ajudaram a moldar serão os dos arquivos e os da memória.
Norman Mailer foi dos dos precursores do jornalismo literário, também chamado de "New Journalism", ou "creative nonfiction", isto é, a adoção de técnicas da ficção em reportagens. Truman Capote, Tom Wolfe e Gay Talese, entre outros, foram seus parceiros nesse projeto, mas Mailer foi o mais radical, o mais ousado. Ele não se limitou a trazer ingredientes de romance para seus textos jornalísticos: viveu ele próprio situações reais que parecem tiradas de romance, abusando de álcool, mulheres e drogas, não necessariamente nessa ordem.
Por exemplo, Mailer foi preso por esfaquear a segunda de suas seis mulheres, num episódio até hoje nebuloso; deu uma cabeçada em Gore Vidal no meio de um debate televisivo (Vidal retrucou com espírito: "Once more, words fail Norman"; saiu no tapa com um marinheiro que pusera em questão a sexualidade de seu cachorro; dedicou-se seriamente ao boxe; apoiou o movimento negro mas combateu as feministas; candidatou-se em 1969 à Prefeitura de Nova York; foi um crítico feroz das Guerras do Vietnã e do Iraque etc. Politicamente, definia-se como um "conservador de esquerda".
Também como romancista, Mailer se engajou na exposição dos ingredientes mais sórdidos da sociedade americana, que retratou como um caldeirão amoral de violência, sexo e ambições irrefreadas. Os nus e os mortos, Um sonho americano e O Evangelho segundo o filho, na ficção, e seus ensaios biográficos sobre Marilyn Monroe e Pablo Picasso são excelentes cartões de visita para sua obra. Suas coberturas jornalísticas de diversas convenções nacionais dos partidos Democrata e Republicano, como Os degraus do Pentágono, ficaram um pouco datadas, mas também são de leitura saborosa. Seu último livro, The Castle in the Forest, enfoca a infância e a adolescência de Hitler.
Mailer pensava que não ia passar dos 40 anos. Morreu hoje, aos 84. Já tinha largado a maioria de seus vícios, menos um: a insubordinação.
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1 comment:
Gostei muito do seu artigo de hoje na Ilustrada sobre arte contemporânea e concordo plenamente com tudo o que disse. Até que enfim um comentário sem "rebuscamentos" semi-óticos (meia visão)ou "poéticos" que ninguém entende nada. parabéns pela objetividade
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