Sunday, October 21, 2007

O mundo que ele viu












Esgotado há décadas no Brasil, o livro de memórias de Stefan Zweig, O mundo que eu vi (Die Welt von Gestern, literalmente O mundo de ontem) é uma leitura fundamental. Zweig terminou de escrevê-lo durante seu curto exílio em Petrópolis, em 1942, quando a Europa estava em ruínas e os horrores da Segunda Guerra ainda estavam longe de terminar. Pouco depois se suicidou, deprimido. Para quem se interessar pelo seu período em Petrópolis, recomendo a leitura de Morte no paraíso, do jornalista Alberto Dines.

Por algum motivo incompreensível, Zweig é hoje pouco lido, mas é difícil exagerar a importância e a qualidade de sua obra. Suas memórias são povoadas por personagens decisivos da cultura européia, com quem conviveu, como Theodor Herzl, Rainer Maria Rilke e Sigmund Freud.

Zweig foi, por assim dizer, devorado pela História que tentou interpretar. Passou a maior parte de sua vida adulta fugindo. Privado repetidas vezes dos valores que lhe eram mais caros - a segurança e a liberdade - era um sobrevivente de uma era civilizada, que tinha com a cultura e as artes uma relação vital.

Seu drama e sua tragédia se confundem com o drama e a tragédia do continente europeu. É significativo que a eclosão da Primeira Guerra o pegue de surpresa, num jardim de Viena, com um livro nas mãos e uma orquestra tocando ao fundo. Subitamente, a música e a leitura foram interrompidas por uma brisa gélida: Francisco Ferdinando, o herdeiro do trono austríaco, era assassinado em Sarajevo. Era apenas o prólogo de um período sombrio, da ascensão da barbárie, da derrota da razão e do triunfo da brutalidade.

A elegância e a profundidade do texto são temperadas o tempo inteiro por dois sentimentos: o de fragilidade e o de privação. Não foi por acaso que Freud e Zweig foram contemporâneos: um e outro foram testemunhas diretas de processos históricos que revelaram a debilidade dos valores e das instituições da chamada civilização; um e outro entenderam na marra a força esmagadora que os impulsos destrutivos podem adquirir quando não são devidamente enquadrados e reprimidos.

1 comment:

diana sandes said...
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