
Máquina de escrever também é o nome do volume que reúne a poesia de Armando Freitas Filho. É dele este poema em prosa, a propósito de uma foto que é outro poema:
Nua, anónima, 1923. Vinte anos presumíveis,
branca, em decúbito dorsal, com o tronco
arqueado (talvez pela respiração presa
no instante único da foto, ou melhor:
foi a foto que a susteve, a suspendeu
para sempre), e mais o cheiro, parado
do grosso cabelo preto do púbis
do pouco que aparece nas axilas não raspadas
que saboreio, degusto, engulo em seco
sinto o gosto, agora, porque a pele
do corpo é de hoje, setenta e oito anos depois
e brilha, lisa, morena de sol, sem nenhum sinal
de vida, porém. Teus olhos fechados te encerram.”
Armando Freitas Filho
1 comment:
Lindo poema!
Linda foto!
=)
Post a Comment