Arte contemporânea é um bom investimento? De tudo o que tenho lido sobre o caráter especulativo e os aspectos financeiros do mercado, só consigo chegar a uma conclusão: é impossível chegar a uma conclusão. As avaliações são as mais desencontradas, já que se trata de um mercado altamente volátil, no qual as obras nem sempre estão disponíveis, no qual uma mesma obra pode apresentar diferenças brutais de preço se for comprada num leilão ou numa galeria, no qual a escassez de regulamentação e o número limitado de agentes poderosos dá margem a diversos tipos de manipulação etc.
Para quem tiver informações privilegiadas, com certeza arte contemporânea pode ser um ótimo investimento - mas isso funciona para qualquer tipo de especulação. Mas trata-se de um mercado com um comportamento particularmente irracional.
Por exemplo, uma foto de Richard Prince - The entertainment series: Russel - que valia 11.500 dólares em 1993 foi comprada por 75 mil dólares em 2004. E a primeira obra de Damien Hirst que foi a leilão, a instalação God, em 1992, foi comprada por irrisórias 4 mil libras. Seis anos depois, a mesma instalação foi revendida por... 170 mil libras. Hoje deve valer milhões. Mas isso jamais aconteceria se o mega-colecionador e galerista Charles Saatchi não tivesse apostado nele e outros artistas de sua geração.
"Apostar", no caso, é modo de dizer: Saatchi adotou esses artistas, deu a todos eles o Turner Prize, que ele controlava indiretamente, promoveu mega-exposições e depois vendeu suas obras a preços estratosféricos. Não é à toa que Saatchi fez fortuna como publicitário e marketeiro (de Margaret Thatcher, por exemplo), antes de se dedicar ao múltiplo papel de colecionador, galerista e mecenas. Saatchi produz, coleciona, legitima, divulga e depois vende. Hirst, neste sentido, não foi uma descoberta: foi clara e abertamente uma invenção, uma fabricação. Saatchi colocou a serviço dele e seus colegas de geração recursos financeiros, seu savoir faire em matréria de marketing e, principalmente, sua rede de relacionamentos.
Um problema específico do mercado da arte contemporânea é a autenticação das obras, fundamental para a formação de preços. Como autenticar uma obra em vídeo, por exemplo, e distingui-la de uma cópia falsificada? Ou uma obra sem original, como na arte virtual? Ou um múltiplo? Ou uma obra que, por empregar material efêmero, rpecisa ser refeita periodicamente? Essa expansão das linguagens artísticas, originalmente associada a um movimento de conestação do mercado, foi reintegrada ao sistema especulativo por meio de recursos os mais conservadores: a revalorização da assinatura e dos certificados de autenticidade, entre outros traços anacrônicos e convenções do passado, que re-associam a arte, mesmo em suas manifestações supostamente mais radicais, a uma lógica de consumo de luxo e de afirmação simbólica de uma classe social.
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Sunday, March 16, 2008
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4 comments:
savoir faire
Octake é o correto
e o ideal seria colocar como tenho visto por aí, até pq ví uma ótima expo de um fotografo lá
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