Coisas que anotei para mais um post sobre arte:
. Anos atrás, os separatistas bascos planejaram explodir uma bomba numa escultura de Jeff Koons exposta no Guggenheim de Bilbao. Falharam - infelizmente.
. Hilton Kramer e Jed perl são dois críticos ditos conservadores preocupados com o futuro da arte: eles acham que a platéia dos museus está evaporando (ao menos a platéia que interessa)
. Já Tom McEvilley, outro crítico americano, acha que um novo cânone se estabeleceu na arte quando o MoMA pagou1 milhão de dólares pela série de fotografias Untitled Film Stills, de Cindy Sherman. Aquele foi o ponto de mutação para a pós-modernidade. Pessoalmente, gosto desse trabalho. Mas tenho o livro que reproduz todas as fotos (cerca de 70), em excelente impressão, e isso me basta perfeitamente para apreciar o trabalho. Há algo de forçação de barra em querer transferir à fotografia a aura da escultura ou da pintura, mesmo que sejam fotografias em tiragem limitada etc. Fotografia não tem original, tem negativo e cópias. Reconheço que fotografias podem ser obras de arte, é claro, mas há muito de manipulação por trás das cotações dos artistas-fotógrafos.
. O Turner Prize merece um post à parte: já há mais de dez anos ele vem pautando o mercado de arte contemporânea, de uma forma altamente manipulada. O prêmio transforma imbecis em gênios da arte contemporânea, cujas cotações sobrem meteoricamente, enriquecendo os organizadores do prêmio.
. Sobre a obra de Beatriz Milhazes, cito a artista americana Jacqueline Humphreys: "When abstraction tries to become merely likeable it becomes decorative".
Monday, July 14, 2008
Wednesday, July 09, 2008
Festival de Besteiras
Parodiando Sérgio porto, o FEBEAARCO - Festival de Besteiras que Assola a Arte Contemporânea - continua. Desta vez a notícia vem de Londres. Uma instalação do artista inglês Martin Creed consiste no seguinte: um atleta atravessa correndo uma galeria a cada 30 segundos.
A instalação, intitulada Obra Número 850 (imagine as outras 849…) está sendo patrocinada pela Sotheby’s e foi inaugurada no dia 1 de julho, na galeria de escultura neoclássica do Museu Tate Britain.
Vale a pena ler a explicação de Creed, que recebeu em 2001 o Turner Prize, por outra instalação - uma sala vazia em que uma luz se acendia e apagava (esta foi a Obra Número 277):
“Gosto de correr. Correr é o oposto de ficar parado. Se você pensar na morte como sendo a imobilidade total e no movimento como sinal de vida, então o movimento mais rápido possível é o maior sinal de vida. Assim, correr rápido é como o oposto exato da morte: é um exemplo de estar vivo.”
Já o diretor do museu, Stephen Deuchar, afirmou que a obra “derruba qualquer idéia preconcebida sobre a maneira apropriada de se percorrer um espaço de arte”.
O Tate Britain faz um alerta aos visitantes: “Por motivos de segurança, pedimos que o público não corra ou crie obstáculos aos corredores.”
Comentar o quê? Não sei o que é mais imbecil, se a explicação do artista ou o comentário do diretor do museu.
Tuesday, July 01, 2008
Sobre cinema
Não sei se acontece com o leitor, mas comigo está cada vez mais difícil assistir a um filme em DVD do começo ao fim. A possibilidade de apertar a tecla pause a qualquer momento, ou mesmo de deixar o resto para outro dia, somada às solicitações caseiras do cotidiano, faz com que eu esteja me tornando um especialista em ver (ou rever) filmes pela metade. Ao longo dos anos, aliás, fui comprando aqueles de que mais gostava, com a convicção de que lhes assistiria diversas vezes. A maioria ainda está lacrada.
Esta é a principal razão pela qual continuo indo ao cinema, mesmo não gostando de filas nem da proximidade física com estranhos, nem dos celulares que tocam, nem do barulho das pessoas - por que será que as mais faladeiras sempre se sentam perto da gente?
Quando o filme é bom, vale a pena o esforço, é claro. Mas isso também está se tornando cada vez mais raro. Os filmes estão piorando ou serei eu que estou ficando mais chato? (Não precisam responder!)
A verdade é que, no cinema - como na literatura, como nas artes plásticas - boa parte da produção do presente (como de qualquer época, aliás) é muito ruim. Os cineastas, escritores e artistas do passado que sobreviveram ao teste do tempo são aqueles que realmente valem a pena. Ou seja, só as futuras gerações saberão se algo da produção contemporânea realmente presta.
Mas no cinema, particularmente, acho que aconteceu um processo de infantilização. Houve um tempo em que havia filmes feitos para adultos, que levantavam questões sérias sobre a vida e nossa relação com o mundo. Hoje a grande maioria das produções exige muito pouco do espectador - mas também oferece muito pouco, além de um entretenimento pré-mastigado.
Incluo nessa categoria mesmo alguns cineastas supostamente “esperimentais”, tidos como grandes autores, que na verdade também oferecem diversão fast-food à platéia, cada vez menor, de cinéfilos, gente que ainda sabe quem foram Bergman e Antonioni etc. É o caso, por exemplo, do estiloso Won Kar Wai, diretor do superestimado “O BEIJO ROUBADO”, ainda em cartaz no Rio: espremendo, não sai nada.
Isso posto, seguem minhas impressões sobre filmes que vi - do início ao fim! - nas últimas semanas:
“O ESCAFANDRO E A BORBOLETA”, de Julian Schnabel:
Schnabel é um excelente diretor, como demonstrou em Antes do anoitecer. Ele transforma numa narrativa redondinha a história (verdadeira e altamente deprimente) do jornalista francês que sofre um AVC e só consegue se relacionar com o mundo através do olho esquerdo. Mas qual é exatamente o ponto do filme? O balanço que o protagonista faz da própria vida não surpreende pela profundidade. Faltou aquele momento revelador que transformasse um caso tristíssimo numa grande obra - como, por exemplo, o clássico “Johnny vai à guerra“, que narra uma situação parecida. Destaque para a atuação do veterano Max von Sydow como pai do jornalista.
“AMAR NÃO TEM PREÇO”, de Pierre Salvadori:
Adorei. Audrey Tautou (a Amélie Poulain) está ótima no papel da golpista ambiciosa que acaba se apaixonando por um garçom. Na superfície, é uma comédia altamente eficiente, que atualiza o gênero de forma criativa, com alguns momentos engraçadíssimos. Mas não é só isso: o filme expõe ao ridículo os valores do consumo e da aparência, a transformação da beleza e da juventude em moeda de troca e outros aspectos do modo como vivemos hoje.
“A ÚLTIMA AMANTE”, de Catherine Breillat:
Acho que foi Samuel Füller quem disse que bastam duas ou três cenas muito ruins para estragar definitivamente um filme, e a diretora Cathérine Breillat erra a mão mais do que duas ou três vezes nesta produção de época. O contraste entre a exagerada Asia Argento - outro dia uma menina, hoje uma senhora, o que torna mais evidentes suas limitações como atriz - e o inexpressivo restante do elenco, entre outros detalhes, torna difícil levar o filme a sério: os momentos supostamente mais trágicos provocam risadas na platéia.
“SEX AND THE CITY - O FILME”, de Michael patrick King:
Mais deprimente que “O ESCAFANDRO E A BORBOLETA”. Triste assistir a quatro quarentonas pensando e se comportando como adolescentes. Um hino à futilidade e ao Botox - extensivo ao ator que interpreta Big. Pior é que filmes assim acabam estabelecendo modelos de comportamento e reforçando valores os mais tortos, e não apenas entre as Patricinhas de todas as idades: a mensagem é que ter uma bolsa Louis Vuitton é o ideal de felicidade para mulheres de todas as classes. Depois reclamam da pirataria…
Esta é a principal razão pela qual continuo indo ao cinema, mesmo não gostando de filas nem da proximidade física com estranhos, nem dos celulares que tocam, nem do barulho das pessoas - por que será que as mais faladeiras sempre se sentam perto da gente?
Quando o filme é bom, vale a pena o esforço, é claro. Mas isso também está se tornando cada vez mais raro. Os filmes estão piorando ou serei eu que estou ficando mais chato? (Não precisam responder!)
A verdade é que, no cinema - como na literatura, como nas artes plásticas - boa parte da produção do presente (como de qualquer época, aliás) é muito ruim. Os cineastas, escritores e artistas do passado que sobreviveram ao teste do tempo são aqueles que realmente valem a pena. Ou seja, só as futuras gerações saberão se algo da produção contemporânea realmente presta.
Mas no cinema, particularmente, acho que aconteceu um processo de infantilização. Houve um tempo em que havia filmes feitos para adultos, que levantavam questões sérias sobre a vida e nossa relação com o mundo. Hoje a grande maioria das produções exige muito pouco do espectador - mas também oferece muito pouco, além de um entretenimento pré-mastigado.
Incluo nessa categoria mesmo alguns cineastas supostamente “esperimentais”, tidos como grandes autores, que na verdade também oferecem diversão fast-food à platéia, cada vez menor, de cinéfilos, gente que ainda sabe quem foram Bergman e Antonioni etc. É o caso, por exemplo, do estiloso Won Kar Wai, diretor do superestimado “O BEIJO ROUBADO”, ainda em cartaz no Rio: espremendo, não sai nada.
Isso posto, seguem minhas impressões sobre filmes que vi - do início ao fim! - nas últimas semanas:
“O ESCAFANDRO E A BORBOLETA”, de Julian Schnabel:
Schnabel é um excelente diretor, como demonstrou em Antes do anoitecer. Ele transforma numa narrativa redondinha a história (verdadeira e altamente deprimente) do jornalista francês que sofre um AVC e só consegue se relacionar com o mundo através do olho esquerdo. Mas qual é exatamente o ponto do filme? O balanço que o protagonista faz da própria vida não surpreende pela profundidade. Faltou aquele momento revelador que transformasse um caso tristíssimo numa grande obra - como, por exemplo, o clássico “Johnny vai à guerra“, que narra uma situação parecida. Destaque para a atuação do veterano Max von Sydow como pai do jornalista.
“AMAR NÃO TEM PREÇO”, de Pierre Salvadori:
Adorei. Audrey Tautou (a Amélie Poulain) está ótima no papel da golpista ambiciosa que acaba se apaixonando por um garçom. Na superfície, é uma comédia altamente eficiente, que atualiza o gênero de forma criativa, com alguns momentos engraçadíssimos. Mas não é só isso: o filme expõe ao ridículo os valores do consumo e da aparência, a transformação da beleza e da juventude em moeda de troca e outros aspectos do modo como vivemos hoje.
“A ÚLTIMA AMANTE”, de Catherine Breillat:
Acho que foi Samuel Füller quem disse que bastam duas ou três cenas muito ruins para estragar definitivamente um filme, e a diretora Cathérine Breillat erra a mão mais do que duas ou três vezes nesta produção de época. O contraste entre a exagerada Asia Argento - outro dia uma menina, hoje uma senhora, o que torna mais evidentes suas limitações como atriz - e o inexpressivo restante do elenco, entre outros detalhes, torna difícil levar o filme a sério: os momentos supostamente mais trágicos provocam risadas na platéia.
“SEX AND THE CITY - O FILME”, de Michael patrick King:
Mais deprimente que “O ESCAFANDRO E A BORBOLETA”. Triste assistir a quatro quarentonas pensando e se comportando como adolescentes. Um hino à futilidade e ao Botox - extensivo ao ator que interpreta Big. Pior é que filmes assim acabam estabelecendo modelos de comportamento e reforçando valores os mais tortos, e não apenas entre as Patricinhas de todas as idades: a mensagem é que ter uma bolsa Louis Vuitton é o ideal de felicidade para mulheres de todas as classes. Depois reclamam da pirataria…
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