Monday, October 29, 2007

As duras opções da Europa







A propósito do livro Os últimos dias da Europa, de Walter Laqueur, que chega esta semana às livrarias, um interessante artigo de Daniel Pipes, publicado no site Mídia Sem Máscara. Pipes é um dos maiores especialistas em Oriente Médio, Islã e terrorismo islamista da atualidade. É autor de 12 livros, entre eles Militant Islam Reaches America, Conspiracy e The Hidden Hand. Neste artigo, ele argumenta que as relações da Europa com sua crescente minoria muçulmana seguirão uma dessas três vias: a da integração harmônica, a da expulsão dos muçulmanos, ou da dominação pelo Islã. A grande questão é: qual delas é a mais provável?

As duras opções da Europa:

O futuro da Europa é de uma imensa importância não somente para seus habitantes. Durante meio milênio, de 1450 a 1950, esses 7 por cento das terras secas do mundo guiou a história do mundo; sua criatividade e vigor inventaram a modernidade. A região pode já ter perdido essa posição decisiva há 60 anos mas continua tendo uma importância crucial em termos econômicos, políticos e intelectuais. A direção que tomar tem, portanto, enormes implicações para o resto da humanidade e especialmente para as nações que dela surgiram, como os Estados Unidos, que historicamente têm a Europa como fonte de idéias, pessoas e bens.

Segue uma avaliação da probabilidade de cada cenário.
I. Governo Muçulmano

A falecida Oriana Fallaci observou que, com o passar do tempo, "a Europa se torna crescentemente uma província do Islã, uma colônia do Islã". A historiadora Bat Yeor denominou essa colônia de "Eurábia". Walter Laqueur prevê, em seu "Last Days of Europe" ["Os Últimos Dias da Europa"], no prelo, que a Europa que conhecemos está fadada a se transformar. Mark Steyn, em "America Alone: The End of the World as We Know it" ["Os Estados Unidos a sós: o fim do mundo como o conhecemos"], vai mais longe e defende que boa parte do mundo ocidental "não sobreviverá ao século XXI, e boa parte irá efetivamente desaparecer antes de morrermos, inclusive muitos, se não a maioria dos países europeus". Três fatores – fé, demografia e senso coletivo de patrimônio cultural [sense of heritage] - indicam que a Europa está sendo islamizada.

Fé: um secularismo extremado predomina na Europa, sobretudo entre as elites, ao ponto de cristãos praticantes (como George W. Bush) serem vistos como mentalmente desequilibrados e inadequados para um cargo público. Em 2005, negou-se a Rocco Buttiglione, um ilustre político italiano e católico convicto, um cargo de comissário italiano na União Européia devido a suas posições em questões como a homossexualidade. Secularismo arraigado também significa igrejas vazias: em Londres, estimam os pesquisadores, mais muçulmanos freqüentam as mesquitas às sextas-feiras que cristãos as igrejas aos domingos, embora a cidade abrigue cerca de 7 vezes mais pessoas advindas de lares cristãos do que de muçulmanos. Enquanto o Cristianismo definha, o Islã atrai; o príncipe Charles exemplifica o fascínio de muitos europeus pelo Islã. Pode haver muitas conversões no futuro da Europa, pois, como no aforismo atribuído a G. K. Chesterton: "Quando os homens deixam de acreditar em Deus, eles não acreditam no nada; acreditam em qualquer coisa".

O secularismo europeu dá a seu discurso formas que são relativamente desconhecidas pelos americanos. Hugh Fitzgerald, ex-vice-presidente do JihadWatch.org, ilustra uma dimensão dessa diferença:

"As declarações mais memoráveis dos presidentes americanos quase sempre incluíram frases bíblicas identificáveis. (...) Essa fonte de força retórica se manifestou em fevereiro passado [2003], quando explodiu o ônibus espacial Columbia. Não fosse um ônibus americano, e sim francês, que tivesse explodido, e Jacques Chirac tivesse de fazer o discurso, ele poderia muito bem ter-se referido ao fato de que havia sete astronautas e evocado a imagem das Plêiades, assim denominadas na Antigüidade pagã. O presidente americano, em um cerimonial nacional solene, que iniciou e terminou com o hebraico bíblico, agiu de forma diferente. Retirou seu texto de Isaías 40:26 que levou a uma imperceptível passagem da combinação de admiração e reverência diante das hostes celestiais trazidas pelo Criador para o conforto diante da perda mundana da tripulação".

A fé fervorosa dos muçulmanos, com a conseqüente sensibilidade jihadista e o supremacismo islâmico, não poderia ser mais diferente da fé dos apóstatas cristãos da Europa. Esse contraste leva muitos muçulmanos a ver a Europa como um continente pronto para a conversão e o domínio. Seguem disso exorbitantes afirmações de supremacia, como a de Omar Bakri Mohammed: "Quero que a Grã-Bretanha se torne um estado islâmico. Quero ver a bandeira do Islã erguida no número 10 da Rua Downing". Ou a previsão de um imã da Bélgica: "Logo assumiremos o poder nesse país. Aqueles que agora nos criticam vão se arrepender. Terão de nos servir. Preparem-se, pois a hora está próxima" [1].

População: implosão demográfica também indica uma Europa se islamizando. A taxa total de fertilidade na Europa hoje em dia está, em média, em cerca de 1,4 por mulher, enquanto para se manter a população é necessário um pouco acima de 2 crianças por casal, ou 2,1 criança por mulher. A taxa atual é apenas dois terços do que precisa ser; um terço da população necessária simplesmente não está nascendo.

Para evitar uma aguda diminuição da população, com todo o sofrimento que isso implica - e, especificamente, a falta de trabalhadores para financiar os generosos planos de pensão -, a Europa precisa de imigrantes - muitos deles. A terça parte importada da população tende a ser muçulmana, em parte porque os muçulmanos estão por perto - são somente 13 quilômetros do Marrocos até a Espanha, somente uns duzentos para chegar à Itália da Albânia ou da Líbia; em parte porque os laços coloniais continuam ligando o Sul asiático à Grã-Bretanha ou o Magrebe à França; e em parte devido à violência, tirania e pobreza que dominam o mundo muçulmano hoje, o que provoca ondas e mais ondas de emigração.

Da mesma forma, a alta fertilidade dos muçulmanos complementa a escassez de crianças entre os cristãos locais. Embora a taxa de fetilidade muçulmana esteja caíndo, ela continua significativamente mais alta do que a da população nativa da Europa. Sem dúvida, as altas taxas de natalidade têm algo a ver com as circunstâncias pré-modernas em que muitas mulheres muçulmanas da Europa se encontram. Em Bruxelas, "Muhammad" já é há alguns anos o nome mais popular entre os bebês do sexo masculino, enquanto Amsterdã e Roterdã estão a caminho de ser, até cerca de 2015, as primeiras grandes cidades européias com população majoritariamente muçulmana. O analista francês Michel Gurfinkiel estima que uma guerra de rua étnica na França iria encontrar os filhos de "indigénes" e de imigrantes em uma relação de aproximadamente 1 para 1. As previsões atuais vêem uma maioria muçulmana no exército russo até 2015 e no país como um todo até cerca de 2050.

Senso coletivo de patrimônio cultural: o que geralmente é caracterizado como sendo o politicamente correto europeu reflete o que acredito ser um fenômeno mais profundo, a saber, o alheamento de muitos europeus em relação a sua civilização, uma noção de que não vale a pena lutar por sua histórica cultura ou sequer conservá-la. É impressionante perceber as diferenças nesse quesito dentro da Europa. Talvez o país menos disposto a esse alheamento seja a França, onde o nacionalismo tradicional ainda exerce grande influência e os franceses se orgulham de sua identidade. A Grã-Bretanha é o país onde esse alheamento é maior, como simboliza o patético programa de governo "ICONS – A Portrait of England” [ÍCONES – Um Retrato da Inglaterra], que espera, de forma capenga, reviver o patriotismo conectando os britânicos a seus "tesouros nacionais", como o Ursinho Pooh e a mini-saia.

Essa timidez tem implicações diretas e adversas para os imigrantes muçulmanos, como Aatish Taseer explicou na revista Prospect:

"A britanidade é o aspecto de identidade mais insignificante para muitos jovens britânicos de origem paquistanesa. (...) Se se vilipendia sua própria cultura, corre-se o risco de os mais recém-chegados irem procurar por uma em algum outro lugar. Tão distante, nesse caso, que para muitos da segunda geração de britânicos com essa origem, a cultura do deserto dos árabes lhes era mais atraente do que a cultura britânica ou do sub-continente. Apartados três vezes de um senso de identidade consistente, a vigorosa perspectiva extra-nacional do Islã radical tornou-se uma identidade à disposição dos paquistaneses de segunda geração".

Os imigrantes muçulmanos têm um enorme desdém pela civilização ocidental, especialmente quanto à sexualidade (pornografia, divórcio e homossexualidade). Os muçulmanos não estão sendo assimilados em nenhum lugar da Europa, raramente ocorrendo casamentos cruzados. Um interessante exemplo do Canadá: a mãe da infame prole dos Khadr conhecida como a primeira família terrorista do país, voltou do Afeganistão e do Paquistão para o Canadá em abril de 2004 com um de seus filhos. Apesar de estar pedindo asilo no Canadá, ela insistia publicamente, apenas um mês antes de fazer o pedido, que os campos de treinamento financiados pela Al-Qaeda eram o melhor lugar para seus filhos. "Você quer que eu crie meus filhos no Canadá para, quando chegarem aos 12 ou 13 anos de idade, usarem drogas ou tenham relações homossexuais? Isso é melhor?"

(Por ironia, em outros séculos, como documentou o historiador Norman Daniel, os cristãos europeus menosprezavam os muçulmanos com suas múltiplas esposas e haréns, por serem hipersexualizados, sentindo-se assim moralmente superiores).

Resumidamente: esse primeiro argumento mantém que a Europa será islamizada, submetendo-se silenciosamente ao status de dhimi ou convertendo-se ao Islã, pois o yin da Europa e o yang dos muçulmanos se encaixam muito bem: baixa e alta religiosidade, baixa e alta fertilidade, baixa e alta confiança cultural.[2] A Europa é uma porta aberta pela qual os muçulmanos estão adentrando.

(continua)

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