Sunday, October 14, 2007

O Bispo


Chegam hoje às livrarias os 700 mil exemplares - até onde eu sei, tiragem inicial sem precedentes no mercado editorial brasileiro - da biografia autorizada do Bispo Edir Macedo, O Bispo - A história revelada de Edir Macedo, de Douglas Tavolaro e Christina Lemos (Editora Larousse). Escolheram para a capa uma foto do Bispo atrás das grades, na prisão - uma escolha temerária, que associa a imagem do biografado à ilegalidade, mais que à perseguição injusta, o que deve ter sido a intenção do editor. Justamente por isso, muitas pessoas julgarão, com ironia, a capa perfeitamente adequada. De qualquer forma, imagino que os canais de distribuição próprios da Igreja Universal devem garantir o escoamento rápido dessa tiragem liliputiana, gigantesca num mercado em que a imensa maioria dos livros não vende nem dois mil exemplares. Mas as grandes e pequenas redes de livrarias, que querem mais é vender, também devem apostar nesse produto, e a Larousse não é um selo qualquer.

Por outro lado, é natural que O Bispo enfrente a resistência de inimigos poderosos. Poderosíssimos, eu diria. O livro receberá atenção da mídia? Será que vai entrar nas listas de mais vendidos? Se não entrar, pode ser um bom ponto de partida para se iniciar um debate sobre essas listas, que de termômetros neutros para aferir o gosto do público se transformaram em ferramentas de marketing poderosas e, portanto, em objetos de desejo de todas as editoras. Por isso mesmo, há dentro das próprias editoras quem compre centenas de exemplares de um título na semana do lançamento para forçar artificialmente a sua entrada nas listas e, conseqüentemente, atrair a atenção da mídia: a partir daí, tudo fica mais fácil, aumenta a boa vontade dos livreiros etc - e esta é apenas uma das ditorções a que as listas de mais vendidos estão sujeitas hoje, por mais sérias e bem intencionadas que sejam. As apostas são cada vez mais altas altas, há muita coisa em jogo: está valendo tudo para entrar nas listas.

Às vezes os espertos caem do cavalo, é claro. Foi o que aconteceu dois anos atrás com uma rede de livrarias que também era editora, que forneceu números inflados sobre as vendas de um título seu, uma reportagem sobre o Mensalão, para que ele entrasse na lista. A Veja descobriu e baniu a rede de sua lista de livrarias consultadas para a composição da lista. Talvez por práticas como esta, a tal rede, outrora importante, tenha entrado em triste e inexorável decadência. Como disse JFK, é possível enganar todo mundo durante algum tempo, ou parte das pessoas o tempo inteiro, mas não se engana todo mundo o tempo inteiro. Os maus podem se beneficiar de suas mentiras e falta de escrúpulos durante algum tempo, mas a hora deles acaba chegando.

Mas acabei fugindo do assunto. O que eu queria dizer é que seguramente nenhum dos 700 mil exemplares de O Bispo irá parar na minha biblioteca, até porque não tenho simpatia por biografias autorizadas (o mais interessante da história geralmente não aparece, é claro, exatamente por ser "não-autorizado"). Mas, correndo o risco de ser apedrejado, eu defendo o direito das Igrejas evangélicas à existência. E acho que, se elas cresceram tanto no Brasil, é porque cumprem uma função social e simbólica importante: dão sentido e dignidade às vidas de um verdadeiro exército de excluídos, que podiam estar roubando, podiam estar matando, podiam estar traficando, podiam estar no Bope, podiam virar políticos. Que se puna com o rigor devido qualquer ilegalidade que cometerem. Mas sem hipocrisia. Se pedem dízimo dos fiéis, talvez seja até barato pelo que estes recebem em troca. Muito pior é um Estado que arrecada impostos e não os devolve em serviços à população.

Não que minha opinião faça alguma diferença, nem que a Igreja Universal precise de qualquer apoio adicional: basta dizer que a rede de fast food Mc Donald's está presente em 118 países; a Universal, com 4.748 templos e 9.660 pastores apenas no Brasil, já se infiltrou em 172 países. Até em Israel o Bispo Edir Macedo está arregimentando fiéis em escala industrial. Outro dia encontrei o Affonso Romano de Sant'Anna, que tinha acabado de voltar de uma viagem a Tel Aviv, e ele me contou que ao lado do prédio onde participava de um debate sobre literatura, num auditório com platéia discreta, o Bispo Edir Macedo estava falando num templo abarrotado de gente. Efeitos da globalização.

De qualquer forma, do ponto de vista do mercado editorial, O Bispo será um "case" interessante de se acompanhar.

1 comment:

Thiago Cavalcante said...

Bom dia!
Olhando seu orkut me deparei com o link do seu blog e resolvi "dar uma espiadinha".

Espero poder comentar outro post de uma forma mais prazerosa.

Um abraço.