Saturday, December 22, 2007

Da série Será arte?


A imagem acima é do vídeo “The Onion” (A cebola), da artista plástica Marina Abramovic, atualmente em exposição na Galeria Brito Cimino, em Salvador. Para não me acusarem de distorcer a obra, vou transcrever a descrição do insuspeito Canal Contemporâneo:

Num close de seu rosto maquiado, com batom e unhas vermelhas e olhar para cima, ressaltado pela diagonal baixa da câmera, a artista segura uma grande cebola, que começa a mastigar lentamente. Ao fundo o voice-over, também em ritmo vagaroso, repete uma fala sua de fadiga: “Estou cansada de mudar de avião tantas vezes, esperando nas salas de espera, estações de ônibus, estações de trens, aeroportos. Estou cansada de esperar em filas sem fim para checarem os passaportes. Compras rápidas em shoppings de compras. (...) Estou cansada de ter vergonha do meu nariz ser muito grande, da minha bunda ser muito grande, com vergonha da guerra na Iugoslávia. Eu quero ir embora. Para um lugar tão longe que eu seja inalcançável, por telefone ou fax. Eu quero ficar velha, muito, muito velha, assim ninguém mais se importará(...)”.

A princípio o vídeo tem o tom de uma encenação hilária, non sense, em que as reclamações parecem frívolas e ridículas, mesmo quando tocando assuntos mais profundos, e na verdade, especialmente nestes momentos. Entretanto, gradualmente, o fato de não ser uma encenação e sim uma performance, na qual a artista está realmente devorando uma cebola crua, vai adensando uma sensação efetiva de cansaço – tensa. A artista alcança um aparente limite físico, numa autodestruição que acompanha a destruição de sua imagem inicial no filme; seus olhos lacrimejam, o batom derrete, ela chega mesmo a soluçar; é possível ouvir o barulho de cada mastigar da cebola, que ela come inteira, até a casca... A obra faz parte do núcleo de uma pesquisa extensa na qual Abramovic explora, dentre outras coisas, a qualidade inseparável entre corpo e mente.


Odeio parecer redundante, mas isso já não está ultrapassado há pelo menos 30 anos? Até quando a arte contemporânea se reduzirá a variações sobre os mesmos temas?

E cadê a crítica de arte, que não questiona nada? Houve um tempo em que os críticos não tinham medo de emitir julgamentos polêmicos e apaixonados; hoje os críticos que restam só escrevem textos na linha "não me comprometa": ambíguos, neutros, descritivos, cheios de salamaleques - quando não se limitam a repetir as opiniões dos próprios releases fornecidos pelos artistas. Nada de reflexão séria, e juízos de valor parecem proibidos.

A falência da crítica de arte é um debate em curso lá fora. Aqui ninguém fala nisso, claro. Mas para quem quiser se aprofundar no tema recomendo a leitura do livro What Happened to Art Criticism?, do crítico e historiador James Elkins, que afirma com todas as letras que a crítica está em crise no mundo inteiro.

1 comment:

Anonymous said...

Primeiro: Não podemos mais ser comtemporâneos, tudo já foi criado! E esse tipo de arte nunca se tornará redundante! É que iremos, para sempre, sentir.