Thursday, January 24, 2008

A curadoria como obra de arte

"Si hay vanguardia significa tener un amigo en el Ministerio de Cultura, estar apoyado por un crítico corrupto de la Prensa, tener el sostén de una galería multinacional y ser capaz de esgrimir públicamente imbecilidades sin la menor vergüenza"
Eduardo Subirats


Como um agente do sistema da arte, conscientemente ou não o artista bem-sucedido está empenhado na reprodução deste sistema: sintomaticamente, cada vez mais artistas acumulam as funções de curadores, galeristas e críticos, criando um novo “discurso” nestas atividades. Veja-se por exemplo, no site www.e-flux.com, o projeto The Next Documenta should be curated by an artist, no qual 29 artistas, incluindo três brasileiros, opinam sobre o assunto. Jens Hoffmann, idealizador do projeto, organizou outro parecido, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, A exposição como trabalho de arte, sugerindo que uma exposição pode ser um trabalho de arte por si só, “sem qualquer trabalho de arte”. Paulo Herkenhoff, Adriano Pedrosa, Ivo Mesquita e Iran do Espírito Santo demonstraram sensatez, defendendo a posição de que “artista faz arte, e curador curadoria”.

Mas por si só a existência dessa discussão aponta para novas relações de poder no sistema da arte, que o tornam ainda mais fechado em si mesmo e auto-referente, à medida que os papéis se confundem. Primeiro se esvazia a função do crítico, depois a do público, depois a do curador, eliminando-se o necessário atrito entre diferentes pontos de vista que servia de crivo na reflexão sobre uma exposição. Mais do que abrir caminho para ações entre amigos que excluam elementos estranhos às panelas, já que artistas-curadores passam a convidar e referendar outros artistas-curadores, este movimento reforça a auto-suficiência do sistema e sua dissociação da vida real - caminho oposto ao da fusão entre vida e arte proposto nos anos 60 e 70. O passo seguinte será perguntar se o mecenato pode ser em si uma obra de arte, mesmo sem arte, ou se os leilões podem ser em si obras de arte, mesmo sem arte, o que facilitaria ainda mais as coisas. O sistema da arte não precisaria mais convencer (ou enganar) ninguém.

Novos papéis correspondem a novas práticas.

3 comments:

Jeca no Mundo said...

Caro Luciano, como sempre venho aqui pra analisar seus textos dando algum exemplo que seja mais próximo a minha realidade de músico, artista entretanto. O que você relata no texto "A curadoria como obra de arte" acontece de maneira semelhante em tantas outras áreas. No caso da música, cada vez mais os músicos são também são seus próprios produtores (não só em estúdios, muitas vezes por facilitações da tecnologia) musicais e executivos. Algumas causas para essa realidade pode m ser apontadas inclusive dentro do mercado fonográfico, que se apresenta com tantas mudanças e prejuízos por parte de grandes gravadoras principalmente com o advento de novas tecnologias como a distribuição digital por exemplo. Mas o quero pontuar aqui, justamente coisa que seu texto aponta, é a discussão que aponta aponta "para novas relações de poder no sistema da arte". Colocando artistas e curadores (ou produtores culturais) no mesmo patamar ou com as mesmas funções, o quanto de cada coisa pode ficar prejudicada por esse "acúmulo de cargos"? Quanto o artista pode passar a se preocupar com sucesso mercadológico de sua arte e esquecer-se de avaliar seus êxitos enquanto artista? Com relação a isso indico um texto de um antropólogo deveras popular, Hermano Vianna, que faz uma análise do trabalho de músicos tremendamente populares fazendo comentários pra lá de levianos sobre a falta de necessidade de qualidade na obra de arte, que a qualidade estaria associada a uma elite , blá, blá. Apesar do meu blá, blá vale a pena ler o texto, para ter uma idéia de que tipo de análise das artes e da cultura está chegando a grande massa social: http://www.overmundo.com.br/over
blog/isso-e-calypso-ou-a-lua-nao-me-traiu
Acompanhado do acúmulo de "funções" na arte hoje em dia, está uma tremenda inversão de valores no fazer e fruir da arte. Abraço, Guto Brinholi

Cosco said...

Caro Luciano,

venho agradecer. o se blog tem sido um riachão de clareza no meio dessa terralhada 'contemporanea" estéril toda.
tenho te acompanhado a pelo menos um mes e li seus post antigos (desde nov/07) pra entender sua linha de raciocínio.
já vi debates acalorados do Paulo Herkenhoff criticando essa visão da curadoria como obra de arte tb.
talvez, o próximo passo seja a "arte sem arte".

Marcos Corrêa

Unknown said...

eu não diria curadoria, o ideal seria um critério de seleçao que não permitisse a decadencia de uma galeria