Não é uma ironia nem um exagero: o vale-tudo na arte é uma realidade que ninguém pode negar de boa fé. Agora mesmo, na Austrália, o artista Tim Patch está concorrendo ao Archibald Prize, o mais importante prêmio do país. O detalhe é que Patch pinta com o pênis. O chato é que isso não é sequer chocante, assombroso ou ridículo. É apenas triste, ou talvez nem isso: já abusaram tanto do público da arte que ele ele ficou anestesiado, irremediavelmente indiferente.
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Fico me perguntando que conspiração de circunstâncias tornou possível para o mundo da arte chegar ao estágio que chegou nos últimos 30 anos, depois de mais de um século de estimulantes transformações - digamos, de Manet ao final da década de 1970.
Pode-se argumentar o seguinte: esses artistas que pintam com o pênis, deixam cachorros morrer de fome, trucidam peixinhos dourados no liquidificador etc são apenas fenômenos de mídia, que nem vale a pena se dar o trabalho de desqualificar.
Em termos: primeiro, porque os artistas hoje considerados sérios pelo sistema (tomando-se como parâmetro suas cotações no mercado internacional, já que este é o único parâmetro que resta) também são, fundamentalmente, fenômenos mediáticos. Em nome de qüe critérios se pode olhar com desdém para um quadro pintado com o pênis e considerar grande arte uma cabeça de boi em decomposição, uma caveira cravejada de diamantes ou um tubarão cortado ao meio? Por qual régua uma cama desarrumada cheia de camisinhas usadas é superior ao cachorro que morre de fome?
Segundo, porque, se a coerência ainda tem algum valor, no cenário pluralista em que vivemos devemos reconhecer como arte qualquer coisa que o artista designe como arte. Não dá para se beneficiar da mídia e do relativismo pluralista somente quando interessa: aqueles artistas que freqüentam as colunas sociais e os aeroportos internacionais dependem da lógica do espetáculo tanto quanto seus colegas que conseguem seu espaço na mídia por conta de bizarrices.
4 comments:
eu gosto, acho engraçado
Pois é...É engraçado...Só que se contar essa piada de novo ninguém ri...Eu tenho pena...Não tem conteúdo e quer aparecer no grito...
é mesmo, mas que é engraçado, é
Poderiam elevar as revistinhas de piadas mensais ao status de literatura universal...também são muito engraçadas...
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