Wednesday, June 18, 2008

David Mamet no mundo do vale-tudo


Assisti ontem à noite à pré-estréia de Cinturão Vermelho, de David Mamet, que traz Rodrigo Santoro e Alice Braga no elenco. Quero dizer logo que considero Mamet um gênio, um dos maiores cineastas vivos, e gostei muito do filme, o melhor que ele dirigiu nos últimos tempos. Além disso, a presença de dois atores brasileiros em papéis importantes é motivo de verdadeiro e justificado orgulho.

Isso posto, passo a compartilhar algumas coisas que passaram pela minha cabeça enquanto via o filme.

. Continuo achando insuperáveis os primeiros trabalhos do diretor - Jogo de Emoções e As Coisas Mudam. Ali ele já estabelece toda uma sintaxe visual e narrativa, o estilo próprio e altamente teatral de direção que repetiria nos filmes seguintes. Ou seja, características como os enquadramentos fechados, a ênfase nos diálogos, as pegadinhas do roteiro, perdem um pouco de impacto, com o tempo. A fronteira entre estilo e fórmula pode ser sutil. Mal comparando, sinto a mesma coisa quando leio os romances de Paul Auster - sempre muito bons, mas com a sensação de déjà vu.


. Mamet é inigualável, porém, na exposição da ambigüidade moral da sociedade americana. A pressão pelo sucesso e a ambição financeira afetam a vida de seus personagens de forma quase patológica, o que é enfatizado pela forma pouco convencional com que o diretor quebra clichês narrativos, sempre contrariando as expectativas da platéia. Só há salvação no indivíduo, parece ser a mensagem de seus filmes, pois a sociedade está incuravelmente doente, ou melhor, ela é fundada em valores doentes.

. Alice Braga se sai melhor que Rodrigo Santoro, a ponto de parecer que o papel dela é bem maior que o dele, maior do que é na verdade. Não que a atuação de Santoro seja ruim, mas ele simplesmente não convence muito: é um ator interpretando corretamente um papel, enquanto Alice entra completamente na sua personagem e parece entender melhor o espírito dos filmes de Mamet, que exige de cada ator uma inteligência sutil e uma tensão contida, por enfatizar as entrelinhas do texto e das situações. Acho mais fácil voltar a ver Alice do que Rodrigo num filme futuro de Mamet - que gosta de trabalhar sempre com os mesmos atores, como se sabe (é interessante acompanhar o envelhecimento deles a cada filme, aliás).

. Por fim, não posso deixar de observar o seguinte: é lamentável que um filme que aborde o universo do jiu-jitsu e do vale-tudo nos Estados Unidos nao cite em um momento sequer o nome Gracie. Conheço bem essa história e posso afirmar que é, no mínimo, uma injustiça - ainda maior pelo fato de o próprio Mamet treinar jiu-jitsu há sete anos.

A seguir, o trailer do filme:

2 comments:

Bruno Porto said...

Luciano, pelo que sei a família Gracie tem uma relação 'difícil' com o uso de seu nome: todos os membros da família podem fazer uso dele comercialmente (há diversas marcas Gracie de confecção, pertencentes a diferentes Gracies), o que talvez tenha sido um empecilho.

Daniel said...

Luciano, tenho que agradecer por essa indicacao. Adoro o Mamet também.

Grande abraco.

Daniel