Wednesday, December 26, 2007

Grandes momentos da arte pós-moderna: Jeff Koons


Estabelecidas algumas hipóteses sobre a crise da arte contemporânea, sobre as quais reconheço que não existe qualquer consenso (nem poderia, já que muitos negam até mesmo que a arte esteja em crise), passo a fazer breves comentários sobre artistas representativos do pós-modernismo.

Como se sabe, o artista contemporâneo precisa ser uma estrela: a fama é um índice de seu valor. Tanto quanto a sua produção artística propriamente dita, importa o seu desempenho como figura pública capaz de chamar a atenção: o artista como performer (também nisso, aliás, o francês Yves Klein foi um precursor). O mundo da arte é um palco sempre à cata de personagens interessantes.

Foi assim que, para se manter em evidência num mercado cada vez mais competitivo, muitos artistas optaram por chamar a atenção da mídia com jogadas de marketing periódicas. Foi o caso do americano Jeff Koons (1955- ), que chegou ao cúmulo de se casar com a atriz pornô e então deputada Cicciolina, em 1991, num evento que recebeu grande publicidade - e virou tema de uma exposição em Londres. Tudo pela arte.


Como artista mediático, Koons é uma ilustração viva de um dos aforismas de Guy Debord em A sociedade do espetáculo: "O espetáculo (...) nada mais diz senão que "o que aparece é bom, o que é bom aparece. A atitude que ele exige por princípio é essa aceitação passiva que, na verdade, ele já obteve pela sua maneira de aparecer sem réplica, pelo seu monopólio da aparência".

As mais famosas (ou seja, as melhores) de Koons são:

- Puppy, um cachorro feito de flores, de 16 metros de altura. A escultura está no Museu Guggenheim de Bilbao.


- Rabbit, um coelho inflável feito de plástico prateado espelhado.


- Objetos de porcelana: Koons encomendava pequenos objetos de artesanato - estatuetas religiosas, animais fofinhos(cachorrinhos, ursinhos) e ícones populares (Michael Jackson, Popeye, Pantera Cor-de-Rosa etc). Apropriava-se assim de ícones da cultura de massa, deslocando-os de seu contexto. Sobre a obra abaixo, Koons declarou: "Pink Panther is about masturbation. I don’t know what she would be doing with the Pink Panther other than taking it home to masturbate with". (Pensando bem, acho que todas as obras de Koons são about masturbation...)


- Made in Heaven, a série de fotografias e esculturas representando atos sexuais explícitos, que incluem cenas de sua vida conjugal com Cicciolina, com títulos sutis como "Jeff por cima”, "Chupeta", “Ejaculação”, “Jeff chupando Ilona” etc. A idéia era discutir a validade da pornografia como arte. Aham. Podem chamar isso de releitura do kitsch etc. Para mim são imagens de um mau gosto extremo. Ponto.

Koons é a encarnação do pós-moderno em vários aspectos:

- a mão do artista está ausente da obra, já que uma equipe se encarrega de produzi-la (foi o caso das pinturas que Koons apresentou na 25a Bienal de São Paulo, feitas por profissionais contratados). Seu ateliê em Nova York é uma verdadeira fábrica, com cerca de 50 assistentes, que dão aterialidade às pinturas e esculturas que ele elabora em compjutador, pinturas e esculturas. Da arte conceitual Koons herdou o princípio de que o artista concebe a obra mas não necessariamente participa da sua realização.
- ele usa a arte para falar da própria arte (masturbation);
- busca inspiração em elementos cotidianos e da cultura pop: aspiradores de pó, panelas de pressão, flores de plástico, bolas de basquete, anúncios de cigarro e bebidas etc; a herança maldita dos ready-mades de Duchamp.
- exige, em alguns casos, a participação do espectador para dar significado à obra;
- ocupa espaços não-convencionais (mas acaba indo para os museus mais importantes);
- transforma a si mesmo em personagem/objeto artístico;
- supostamente questiona os valores e dogmas do mercado - mas não se incomoda de vender suas obras por pequenas fortunas. Em 2001, uma escultura em cerâmica do cantor Michael Jackson e de seu macaco Bubbles foi vendida por 5,6 milhões de dólares. E a obra abaixo, Blue diamond, por exemplo, tem dois metros e meio de altura e foi avaliada em 20 milhões de dólares, pela casa de leilões Christie's. E nem é um diamante verdadeiro...


De maio a setembro de 2008, o Museu de Arte Contemporânea de Chicago fará uma grande retrospectiva de Jeff Koons, e sua influência é visível em novas estrelas do mercado, como Damien Hirst e Andreas Gursky. É toda uma linhagem de artistas que torna evidente que uma parcela importante da arte contemporânea é obra de moedeiros falsos, de prostitutos da banalidade. Aliás, antes de enveredar pelas artes pláticas, Koons corretor de valores e trabalhou em Wall Street - uma experiência perfeita para o artista contemporâneo.

É assim que o crítico James Gardner se refere a Koons no livro Cultura ou lixo?: "O último, mas também o mais insignificante. Num mundo perfeito, nem falaríamos dele. Veríamos a sua arte como uma brincadeira marota que, embora faça rir, está condenada ao esquecimento. Como Koons continua sendo levado a sério por gente que se leva mais a sério ainda, é impossível ignorá-lo numa discussão sobre arte contemporânea. Pelo que sei, ele jamais fez uma obra de arte que fosse formal ou espiritualmente ambiciosa. Aliás, ele nunca fez uma obra de arte"

Quem tiver interesse em conhecer mais sobre a obra de Koons, clique no site oficial do artista: www.jeffkoons.com.

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