Thursday, December 27, 2007
Sobre Banksy
Tudo que tenho escrito aqui sobre arte contemporânea são hipóteses: não pretendo de forma alguma ser o dono da verdade. Mas este é um terreno em que a carência de debates é tão grande que qualquer reflexão minimamente inteligente provoca reações, por assim dizer, intensas. Leio com atenção todas as mensagens e comentários que chegam, procurando absorver o que eles têm de útil e ignorar o que eles têm de irrelevante (as distorções de leitura, os preconceitos, a visão maniqueísta do mundo, a patrulha ideológica etc).
Outra observação importante: falo aqui de artistas representativos de determinados fenômenos, mas sei perfeitamente que eles correspondem a uma fração mínima da classe; sei também que, excluídas exceções que se contam nos dedos, uma grande parcela dos artistas brasileiros vive precariamente, e uma parcela maior ainda nem consegue chegar na periferia do sistema da arte, expor em coletivas etc. Mas, para analisar a arte contemporânea, é preciso ir nos exemplos mais típicos do modelo vigente. Por isso é necessário, sim, desmontar fraudes e embustes que fazem sucesso, porque é ali que se manifestam os problemas mais graves do sistema. Nesse processo, são inevitáveis algumas simplificações.
Pois bem, recebi há pouco o comentário abaixo, relativo ao post Perguntas que não querem calar:
Concordo com quase tudo, logicamente.
Agora, colocar Rauschenberg e Bansky no caldeirão de frivolidades da arte contemporânea é um equívoco.
Faça uma visita ao site do Banksy para descobrir nele um dos melhores artistas da atualidade. Ele é tudo o que você aponta de positivo na arte: contestador, questionador, e criador de uma arte que instiga e se comunica.
Alarcão
Ainda que a obra escolhida para ilustrar o post em questão (Mona Simpson) seja uma bobagem, o Alarcão tem razão: Bansky tem trabalhos interessantes, que fogem ao padrão alienante de seus principais contemporâneos. Por outro lado, não sou quem quem coloca Banksy no caldeirão de frivolidades da arte, é esse caldeirão que puxa para si, com uma força magnética à qual é difícil resistir, qualquer artista que se destaque.
Ainda assim:
Banksy recupera o conteúdo social e político na arte e a prática da intervenção urbana: trabalhos seus, principalmente stencils, são facilmente encontrados nas ruas de Londres. Avesso à publicidade, não dá entrevistas (é claro que iso também funciona como um anti-marketing), e quase todas as suas obras têm um componente de contravenção (mais que de transgressão), de desprezo à autoridade e ao poder constituído. Sua mensagem é anti-guerra, anti-capitalismo e anti-instituições.
Sua tática é de guerrilha. Assim, por exemplo, ele trocou, em lojas de discos, 500 CDs de Paris Hilton por cópias adulteradas; e colocou na Disneylândia uma escultura representando um preso de Guantánamo, em tamanho natural. Em 2006, expôs um quadro que mostrava cantor Michael Jackson atraindo, com doces, crianças para uma casa na floresta.
Banksy não procura chocar, nem confundir, nem humilhar. Não encerra sua arte numa cápsula para iniciados. Por isso, ao contrário de muitos artistas contemporâneos, desperta em seus observadores não a perplexidade ou a rejeição, mas concordância e o sentimento de identidade - e, freqüentemente, o sorriso de cumplicidade.
Pela própria natureza de seu trabalho, Banksy escapa da alucinação especulativa do sistema da arte: como fixar um preço para um desenho feito num muro público, por exemplo? Aliás, recentemente, um painel de sete metros de comprimento pintado pelo artista num bairro operário de Bristol foi coberto de tinta por funcionários contratados pela prefeitura para apagar pichações. Confundiram a obra com vandalismo.
É claro que ele também vende bem, mas são valores modestos perto das obras de Damien Hirst e outras estrelas: por exemplo, em fevereiro passado uma desenho de aposentados jogando boliche com bombas foi comprada 200 mil dólares, m as é possível comprar telas suas por 25 mil libras.
No começo deste mês Banksy instalou, junto a uma barreira israelense erguida na Cisjordânia, uma exposição coleticva com artistas palestinos, com o título Santa'a Ghetto ("O Gueto do Papai Noel"), chamando a atenção, em suas próprias palavras (www.banksy.co.uk), para "uma parte do mundo destruída pela pobreza e conflitos". A exposição atraiu turistas (e receita) para a comunidade local. Em 2005, Banksy já tinha feito um desenho na barreira israelense - um buraco na parede com uma paisagem serena ao fundo.
Seguem mais algumas obras e dois vídeos pescados no Youtube.
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