Friday, December 07, 2007

A Revolução vista de dentro













Comecei a ler ontem à noite O ano I da Revolução Russa, de Victor Serge, e foi difícil interromper a leitura, já madrugada adentro. De Serge já tinha lido Memórias de um revolucionário. São dois livros complementares, que dão uma dimensão e um sentido pessoais à idéia de revolução, idéia que o autor transformou no eixo e no motor de sua vida.

Publicado em 1930, O ano I da Revolução Russa reconstitui o período entre 7 de novembro de 1917 e 7 de novembro de 1918, das batalhas e debates políticos aos desafios de organização econômica (como o abastecimento das cidades) e militar (a criação Exército Vermelho). Serge traça perfis psicologicamente ricos de Lenin e Trotski, que intercala com descrições da vida cotidiana e análises da situação russa.

Filho de um exilado político que teve que deixar a Rússia após o assassinato do Tzar Alexandre II em 1881, Victor Serge nasceu em Bruxelas em 1890. Aderiu ao anarquismo aos 18 anos, em Paris, passando a escrever assiduamente nos jornais Le Revolté e L'Anarchie. Acusado de envolvimento em atos de terrorismo, foi condenado em 1910 a cinco anos de prisão e viu vários de seus amigos serem executados. Solto, participou da tentativa de revolução em Barcelona em 1917, depois voltou à França e foi novamente preso. Em 1919, foi trocado por franceses anti-bolcheviques presos em Moscou e finalmente conheceu a terra de seus pais.

Na Rússia, Victor Serge aderiu ao bolchevismo sem abrir mão de sua consciência crítica. Rapidamente ele percebe o autoritarismo da revolução, que conduzia a passos largos a uma tirania, sobretudo após a morte de Lenin. Atacou a política secreta soviética e a repressão ao levante dos marinheiros do Kronstadt. Em 1923, como representante do Comintern na Alemanha, ajudou a preparar a malograda insurreição de de 1923.

Em 1928 foi expulso do Partido Comunista. Amigo de Trotsky, voltaria a ser preso em 1933. Solto e deportado devido a presões internacionais (era um intelectual reconhecido por seus livros em toda a Europa), Serge foi para a França, de onde teve que fugir em 1940, com a invasão alemã. Foi morar no México, onde morreu em 1947, isolado e na miséria, com o terno puído e os sapatos furados.

Apesar de tudo que sofreu, na prisão e fora dela, Victor Serge não abriu mão de suas convicções socialistas, exaltando até o fim da vida a entrega sincera da velha guarda bolchevique à causa da revolução mundial (velha guarda esmagada pelo próprio governo soviético). Reconheceu, por outro lado, a sucessão de erros cometidos por Lenin e pela burocracia stalinista que o sucedeu, erros que transformaram a utopia socialista num pesadelo de terror e opressão.

'O único significado da vida é a participação consciente na formação da
história', escreveu em seu diário, já no fim da vida, acrescentando: 'É preciso alinhar-se
ativamente contra tudo o que apequena o homem e envolver-se em todas as
lutas que tendem a libertá-lo, e engrandecê-lo.'

Existem textos de Victor Serge de acesso gratuito na Internet, mesmo em português. O mais interessante é O que todo revolucionário deve saber sobre a represssão, de 1925:
http://www.primeiralinha.org/textosmarxistas/serge1.htm#intro

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