Saturday, May 03, 2008

Um fenômeno que dá pena


O tratamento que a mídia tem dado ao caso deprimente envolvendo Ronaldo e um travesti sugere que, no Brasil, existe uma tendência a reduzir ao “dito pelo não dito” episódios polêmicos, constrangedores ou mesmo criminosos. Não há interesse em esclarecer verdadeiramente as coisas, ao contrário: desvia-se o foco da questão principal para detalhes acessórios, talvez na expectativa de que, quanto mais enevoada ficar a história, mais rapidamente ela será transformada em folclore e, em seguida, esquecida. Mas isso não é tão simples.

Calotes ou golpes protagonizados por travestis e seus clientes devem chegar às delegacias com certa freqüência. É, evidentemente, o fato de envolver uma celebridade que torna esse caso, em si corriqueiro, em manchete internacional. Se Ronaldo ainda não entendeu, nessa altura do campeonato, que a imagem pública é seu maior patrimônio, ainda mais ao se aproximar da aposentadoria, é uma pena. Já se fala que a Nike estuda romper o contrato publicitário vitalício que assinou com o craque – o que seria plenamente justificado. Mas, mesmo que isso não aconteça, o prejuízo em termos de oportunidades que deixarão de aparecer é inestimável.

O episódio inteiro tem inúmeros pontos em que as versões de Ronaldo e do travesti se contradizem, do ridículo, que virou piada de botequim – ele confundiu os travestis com mulheres? – ao gravíssimo, que exige apuração policial – houve consumo de cocaína no quarto de motel? A tentativa que houve foi de suborno ou de extorsão?

Mas mesmo o que é admitido pelo próprio jogador é suficientemente lamentável para cobrir de vergonha seus admiradores – já que ele assume ter estado num quarto de motel, durante cinco horas (das 4h30 às 9h30) com três travestis (não entremos em detalhes sórdidos), supostamente depois de deixar a noiva em casa, às quatro e meia da manhã. Ora, o que ele assume que fez basta, também, para que o papel de vítima não lhe caia bem – até porque Ronaldo vai tentar esquecer o assunto em Paris, enquanto o travesti, na melhor das hipóteses, vai voltar para as ruas (onde nunca mais conseguirá um cliente famoso…).

De qualquer forma, o sentimento que hoje prevalece em relação a Ronaldo é o de pena. Triste destino para quem ostenta a alcunha de fenômeno.

1 comment:

T said...

Eu 'ainda' fico impressionada ao ver pessoas julgando e condenando pessoas por coisas tão sem valor.

Não sou fã de futebol, menos ainda de jogadores. Talvez por isso eu continue achando que todo mundo tem direito de ir e vir, contanto que não atropele o outro pelo caminho.

No mundo cada vez mais repleto de informação, ainda, e cada vez mais, se criam debates sobre com quem 'fulaninho' foi ao motel... que pena.

Talvez os reality shows já tenham impregnado a pouca vida das pessoas, que voltam à arena pra assistir a queda do ídolo em tempo real, pra ver a morte da criança de hora em hora, pra crucificar o outro com todos os seus erros. tudo isso sem sair da poltrona.
que pena!

Tatiana