Saturday, May 31, 2008
Beatriz Milhazes vale 1 milhão de dólares?
No último dia 15, no leilão de arte contemporânea da Sotheby's, a pintura O Mágico, de Beatriz Milhazes (avaliada em 350 mil dólares), foi vendida ao colecionador argentino Eduardo Costantini por 1,049 milhão de dólares, um recorde para artistas brasileiros vivos.
A Beatriz Milhazes é uma versão melhorada do Romero Britto. Os dois criaram um vocabulário visual de fácil assimilação, sob medida para novos ricos que vêem na arte um sinal de distinção social ou uma forma de investimento, mas ao mesmo tempo entendem a arte como decoração. Mas, por outro lado, é preciso perguntar em nome de que propostas outros artistas torcem o nariz para eles, já que todo mundo se rendeu ao mercado e ninguém discute mais nada, nem propõe nada realmente novo. Se o sucesso vira critério estético, a Beatriz e o Romero têm que ser considerados grandes artistas. Esta é a armadilha na qual a arte contemporânea está caindo.
A valorização de artistas brasleiros deve ser festejada, mas o problema é que o que passa a ser importante na arte é apenas isso: as cotações que ela atinge. Ninguém discute a arte em si, porque há panelas e interesses os mais diversos em jogo. Se o artista se une incondicionalmente ao mercado e às instituições, a sua produção acaba ficando domesticada e sem relevância. É o que está acontecendo com a arte contemporânea, que cada vez mais tem um status parecido com o da moda. As somas movimentadas são cada vez maiores, mas qual a importância real da produção atual?
Saturday, May 24, 2008
Sobre a Bienal
Sobre a próxima Bienal de São Paulo, já consegrada como "a Bienal do vazio", li algumas declarações interessantes, que transcrevo e comento a segir:
“Estamos num excelente momento para repensar o papel das exposições realizadas pela Bienal no mundo globalizado. (...) Seria interessante definir os caminhos da instituição neste século.” (Manoel Francisco Pires da Costa, presidente da Fundação Bienal)
“Considerando a perspectiva local inserida num circuito global em que as bienais operam, elas correm o risco de se tornar provedoras do exotismo para consumo, de espaços de interação com a alteridade (diversidade cultural, racial, econômica), e dos álibis políticos e sociais para a economia globalizada do capitalismo transcontinental. O modelo parece criticamente exaurido, banalizado (...) Ao sistematizar uma reflexão sobre as bienais, reavaliar as qualidades e objetivos, promover uma reflexão sobre sua vocação, a Bienal de São Paulo poderá definir um novo papel de protagonista entre as tantas mostras de artes visuais periódicas que povoam o mundo neste século.” ” (Ivo Mesquita, curador)
(Depois comento)
“Estamos num excelente momento para repensar o papel das exposições realizadas pela Bienal no mundo globalizado. (...) Seria interessante definir os caminhos da instituição neste século.” (Manoel Francisco Pires da Costa, presidente da Fundação Bienal)
“Considerando a perspectiva local inserida num circuito global em que as bienais operam, elas correm o risco de se tornar provedoras do exotismo para consumo, de espaços de interação com a alteridade (diversidade cultural, racial, econômica), e dos álibis políticos e sociais para a economia globalizada do capitalismo transcontinental. O modelo parece criticamente exaurido, banalizado (...) Ao sistematizar uma reflexão sobre as bienais, reavaliar as qualidades e objetivos, promover uma reflexão sobre sua vocação, a Bienal de São Paulo poderá definir um novo papel de protagonista entre as tantas mostras de artes visuais periódicas que povoam o mundo neste século.” ” (Ivo Mesquita, curador)
(Depois comento)
Thursday, May 22, 2008
Keith Haring
A foto acima mostra Keith Haring em ação no metrô de Nova York, em 1983. Nessa altura ele já era uma celebridade internacional e fazia sucesso comercial, mas suas cotações no mercado começaram a subir de verdade quando foi divulgado, no final dos anos 80, que ele era HIV-positivo, confirmando uma previsão que ele próprio fizera numa entrevista: "Em minha vida fiz muitas coisa, ganhei muito dinheiro e me diverti muito. Mas também vivi em Nova York nos anos do ápice da promiscuidade sexual. Se eu não pegar AIDS, ninguém mais pegará". Haring morreu aos 31 anos, em 1990. Hoje suas obras estão entre as mais caras da arte contemporânea.
A descoberta de dois artistas foi fundamental para a carreira de Haring. Primeiro, foi ao assistir a uma conferência de Christo, no final dos anos 70, que ele se sentiu motivado a desenhar em espaços públicos, de forma que pessoas comuns pudessem esbarrar em suas obras; mais tarde, foi ao conhecer os graffitis de SAMO, pseudônimo de Jean-Michel Basquiat - que também virou um super-astro da arte e também morreu precocemente, de uma overdose de heroína - que Haring deu um rumo definitivo à sua obra, desenvolvendo o vocabulário visual que se tornaria sua marca registrada: bebês engatinhando, discos voadores, cachorros latindo, pirâmides vibrando, homenzinhos que voam, sempre desenhados de maneira crua e rápida.
O sucesso, como costuma acontecer, veio acompanhado de muitas críticas: rico e famoso, Haring ficou amigo de Madonna e Andy Warhol e passou a circular na alta sociedade. Além disso, emprestou sua arte a anúncios de bebidas e automóveis - e abriu uma empresa para comercializar produtos com desenhos seus. Além disso, parou de desenhar no metrô: seus desenhos eram roubados poucas horas depois de concluídos, e ressurgiam à venda em poucos dias. Por tudo isso, muita gente o acusou de estar se vendendo - expressão que faz cada vez menos sentido, na medida em que os artistas contemporâneosn incorporam os valores neoliberais do sucesso financeiro.
Pessoalmente, acho o trabalho de Keith Haring engraçadinho. Mas não tem a profundidade nem a sutileza que espero encontrar na arte verdadeira. Que obras que ele rabiscou em poucas horas, numa produção em série, cheguem a valer milhões de dólares me parece incompreensível.
Tuesday, May 06, 2008
Saturday, May 03, 2008
Just What Is It That Makes Today’s Homes So Different, So Appealing?
Diferentemente do que se costuma pensar, a Pop Art não nasceu nos Estados Unidos, mas na Inglaterra. A primeira obra pop é esta aqui: a colagem Just What Is It That Makes Today’s Homes So Different, So Appealing?, de 1956, do artista inglês Richard Hamilton: o mundo do consumo e os meios de comunicação de massa invadindo a (e ocupando um lugar central na) privacidade do lar. A obra integrou uma exposição na Whitechapel Art Gallery, chamada "This is Tomorrow".
Mas o termo Pop Art só seria cunhado em 1958, pelo crítico Lawrence Alloway, também inglês, que integrava, com Hamilton, Eduardo Paolozzi e outros artistas, arquitetos e críticos, o Independent Group, em Londres. O grupo se reunia no ICA (Institute of Contemporary Arts), para discutir as manifestações da nova cultura popular urbana, em reação ao espírito amorfo da arte inglesa dos anos 40. Alloway concebia a Pop Art como uma extensão das artes plásticas à publicidade, às ilustrações de revistas e ás imagens de produtos industrializados, como carros e eletrodomésticos. Como Andy Warhol, aliás, Hamilton começou a carreira fazendo ilustrações comerciais para agências de publicidade - e também capas de discos: é dele o projeto gráfico do White Album, dos Beatles.
Dick Tracy, de Andy Warhol
Mensagem de um artista
Recebi a mensagem abaixo do artista plástico John Nicholson. Nascido e graduado no Texas, Nicholson se mudou para o Rio de Janeiro aos 26 anos, em 1977. Três anos depois, já era professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e um dos participantes da chamada Geração 80. Sempre fiel à pintura, ele se contrapôs à racionalidade impessoal da Arte Conceitual e aos processos de desmaterialização da arte e, conseqüentemente, do "saber fazer".
Na ilustração, um quadro da fase figurativa de Nicholson (que me lembra Edward Hopper)
Caro Luciano,
Estou lendo seu blog e a acho refrescante.
Aprecio a sequência de Klein - artist's ranking - conceitualismo dos anos 60. Na segunda parte da década de 70, quando cheguei no Brasil, essa versão de conceitualismo e variações prevalecia aquí no Rio. Já estava fora de moda nos EUA e na Europa, pois uma iniciativa de ênfase na pintura estava andando e acelerando. Fora do Brasil, havia um movimento de cíclo revertendo, com certeza, mas aquí era tudo preso em censuras governamentaís e hieraquias artísticas institucionaís.
Pessoalmente, me formei na era de Minimalismo e Foto-Realismo, e essa formação me acompanha até o presente momento. O conceitualismo, para mim, sempre era algo isolado em demaisia e sem a circulação necessária e suficiente para se constuir uma forma (ou melhor, uma obra), e não queria ser uma forma mesmo obviamente (ao contrário de Duchamp, com os seus ready mades e até a sua valise com o ar de Paris). Podiam argumentar e argumentavam que um projeto conceitualista era um especi de Blueprint (possível de incluir no Minimalismo?).
Uma obra de arte precisa ser incluida no mundo e participar da realidade para poder ser concluida. Uma obra precisa afetar efetivamente e ser efetivamente afetada e mudada pelo mundo ao longo do tempo. Conversando com um crítico carioca sobre tudo isso duas décadas depoís, concluí que ele faça uma leitura errônea sobre o "mental" de Leonardo, e que estava confundindo Platão com Aristóteles.
Para seu leitor que acusa você de ser um modernista, tenho pena dele. O mundo pós-moderno e pós-industrial que ele tanto preza está em colapso nas míltiplas frentes: econômicas, financeiras, climáticas, technológicas, militares, energéticas, políticas, filosóficas e institucionaís.
Grande abraço,
John Nicholson
Na ilustração, um quadro da fase figurativa de Nicholson (que me lembra Edward Hopper)
Caro Luciano,
Estou lendo seu blog e a acho refrescante.
Aprecio a sequência de Klein - artist's ranking - conceitualismo dos anos 60. Na segunda parte da década de 70, quando cheguei no Brasil, essa versão de conceitualismo e variações prevalecia aquí no Rio. Já estava fora de moda nos EUA e na Europa, pois uma iniciativa de ênfase na pintura estava andando e acelerando. Fora do Brasil, havia um movimento de cíclo revertendo, com certeza, mas aquí era tudo preso em censuras governamentaís e hieraquias artísticas institucionaís.
Pessoalmente, me formei na era de Minimalismo e Foto-Realismo, e essa formação me acompanha até o presente momento. O conceitualismo, para mim, sempre era algo isolado em demaisia e sem a circulação necessária e suficiente para se constuir uma forma (ou melhor, uma obra), e não queria ser uma forma mesmo obviamente (ao contrário de Duchamp, com os seus ready mades e até a sua valise com o ar de Paris). Podiam argumentar e argumentavam que um projeto conceitualista era um especi de Blueprint (possível de incluir no Minimalismo?).
Uma obra de arte precisa ser incluida no mundo e participar da realidade para poder ser concluida. Uma obra precisa afetar efetivamente e ser efetivamente afetada e mudada pelo mundo ao longo do tempo. Conversando com um crítico carioca sobre tudo isso duas décadas depoís, concluí que ele faça uma leitura errônea sobre o "mental" de Leonardo, e que estava confundindo Platão com Aristóteles.
Para seu leitor que acusa você de ser um modernista, tenho pena dele. O mundo pós-moderno e pós-industrial que ele tanto preza está em colapso nas míltiplas frentes: econômicas, financeiras, climáticas, technológicas, militares, energéticas, políticas, filosóficas e institucionaís.
Grande abraço,
John Nicholson
Um fenômeno que dá pena
O tratamento que a mídia tem dado ao caso deprimente envolvendo Ronaldo e um travesti sugere que, no Brasil, existe uma tendência a reduzir ao “dito pelo não dito” episódios polêmicos, constrangedores ou mesmo criminosos. Não há interesse em esclarecer verdadeiramente as coisas, ao contrário: desvia-se o foco da questão principal para detalhes acessórios, talvez na expectativa de que, quanto mais enevoada ficar a história, mais rapidamente ela será transformada em folclore e, em seguida, esquecida. Mas isso não é tão simples.
Calotes ou golpes protagonizados por travestis e seus clientes devem chegar às delegacias com certa freqüência. É, evidentemente, o fato de envolver uma celebridade que torna esse caso, em si corriqueiro, em manchete internacional. Se Ronaldo ainda não entendeu, nessa altura do campeonato, que a imagem pública é seu maior patrimônio, ainda mais ao se aproximar da aposentadoria, é uma pena. Já se fala que a Nike estuda romper o contrato publicitário vitalício que assinou com o craque – o que seria plenamente justificado. Mas, mesmo que isso não aconteça, o prejuízo em termos de oportunidades que deixarão de aparecer é inestimável.
O episódio inteiro tem inúmeros pontos em que as versões de Ronaldo e do travesti se contradizem, do ridículo, que virou piada de botequim – ele confundiu os travestis com mulheres? – ao gravíssimo, que exige apuração policial – houve consumo de cocaína no quarto de motel? A tentativa que houve foi de suborno ou de extorsão?
Mas mesmo o que é admitido pelo próprio jogador é suficientemente lamentável para cobrir de vergonha seus admiradores – já que ele assume ter estado num quarto de motel, durante cinco horas (das 4h30 às 9h30) com três travestis (não entremos em detalhes sórdidos), supostamente depois de deixar a noiva em casa, às quatro e meia da manhã. Ora, o que ele assume que fez basta, também, para que o papel de vítima não lhe caia bem – até porque Ronaldo vai tentar esquecer o assunto em Paris, enquanto o travesti, na melhor das hipóteses, vai voltar para as ruas (onde nunca mais conseguirá um cliente famoso…).
De qualquer forma, o sentimento que hoje prevalece em relação a Ronaldo é o de pena. Triste destino para quem ostenta a alcunha de fenômeno.
Thursday, May 01, 2008
Três artistas conceituais
No auge da Arte Conceitual, no final dos anos 60, muitas obras não existiam concretamente, como objetos, mas apenas como idéias. O artista Lawrence Weiner, por exemplo, declarou: "Conhecer uma obra minha é possuí-la: não há maneira de eu entrar na cabeça de uma pessoa e tirá-la de lá". Em 1960, Weiner produziu com explosivos crateras artificiais em Mill Valley, na Califórnia. Nos anos seguintes, ele se deu conta de que passava mais tempo falando sobre suas obras do que realizando-as, de forma que decidiu trabalhar apenas com textos, grudando palavras e frases de grandes dimensões nas paredes das galerias.
Em 1968, Weiner formulou uma famosa "Declaração de intenções", que sintetiza sua visão da obra de arte, que "não precisa ser construída". No mesmo ano, publicou a obra Statements, um livreto de 64 páginas descrevendo projetos jamais realizados - o livro em si é considerado uma obra seminal da Arte Conceitual.
Uma grande retrospectiva da obra de Wiener ocupou o Whitney Museum, de novembro de 2007 a fevereiro deste ano.
Robert Barry, por sua vez, se justificou, em 1968: "O mundo já está cheio de objetos, mais ou menos interessantes. Não quero acrescentar outros". Reduzindo a arte a puro pensamento, Barry produziu, no ano seguinte, a obra Telepatic Piece, que consistia, simplesmente, na afirmação: "Durante a exposição, eu tentarei comunicar telepaticamente uma obra de arte, cuja essência é uma série de pensamentos que não são aplicáveis á linguagem ou a imagens".
Evidentemente, essasobras negavam a possibilidade de comercialização, até porque não existia nada que se pudesse comprar ou vender. Segundo Joseph Kosuth, um pioneiro da Arte Conceitual, a arte se aproximaria assim da ciência ou da filosofia, que são auto-suficientes, não dependem do público e não têm valor como mercadoria.
Mas, para o artista franc~es Daniel Buren, exibir um conceito, em vez de uma pintura ou uma escultura, não era suficiente, pois se estaria apenas trocando seis por meia dúzia. Por isso Buren tentou criar uma obra que não fosse nem objeto nem conceito, e durante décadas, a partir de 1966, ele se limitou a produzir tiras verticais vermelhas e brancas, que colocava em qualquer lugar, incluindo os espaços institucionais dos museus e galerias.
Em 1968, Weiner formulou uma famosa "Declaração de intenções", que sintetiza sua visão da obra de arte, que "não precisa ser construída". No mesmo ano, publicou a obra Statements, um livreto de 64 páginas descrevendo projetos jamais realizados - o livro em si é considerado uma obra seminal da Arte Conceitual.
Uma grande retrospectiva da obra de Wiener ocupou o Whitney Museum, de novembro de 2007 a fevereiro deste ano.
Robert Barry, por sua vez, se justificou, em 1968: "O mundo já está cheio de objetos, mais ou menos interessantes. Não quero acrescentar outros". Reduzindo a arte a puro pensamento, Barry produziu, no ano seguinte, a obra Telepatic Piece, que consistia, simplesmente, na afirmação: "Durante a exposição, eu tentarei comunicar telepaticamente uma obra de arte, cuja essência é uma série de pensamentos que não são aplicáveis á linguagem ou a imagens".
Evidentemente, essasobras negavam a possibilidade de comercialização, até porque não existia nada que se pudesse comprar ou vender. Segundo Joseph Kosuth, um pioneiro da Arte Conceitual, a arte se aproximaria assim da ciência ou da filosofia, que são auto-suficientes, não dependem do público e não têm valor como mercadoria.
Mas, para o artista franc~es Daniel Buren, exibir um conceito, em vez de uma pintura ou uma escultura, não era suficiente, pois se estaria apenas trocando seis por meia dúzia. Por isso Buren tentou criar uma obra que não fosse nem objeto nem conceito, e durante décadas, a partir de 1966, ele se limitou a produzir tiras verticais vermelhas e brancas, que colocava em qualquer lugar, incluindo os espaços institucionais dos museus e galerias.
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